Opinião Valentina de Botas:
Como um país pode ser dono de seu destino, mas não da história, esta se rebelou na morte precoce de Tancredo. O que foi, creio, na história recente, o momento decisivo para frutificar a pior geração de homens públicos: o desastroso governo Sarney, naquele pesadelo em forma de Plano Cruzado e nos passeios do jeca maranhense de limusine por Nova York, aprofundou o país na necessidade imaginária e deletéria de um salvador da pátria e, quando em 1992, pudemos decidir nosso destino, ele se apresentou na opção deformada de separar o joio do joio: votar no jeca ou em Collor.
Como o Brasil já naturalizou espantos que deixariam zonza qualquer nação sóbria, passamos do funeral repentino de um presidente querido para o impeachment de outro repudiado sem nenhum solavanco nas instituições. Ao contrário, substituir Tancredo e depor Collor legalmente foram testes pelos quais o ordeiro povo carnavalesco sagrou o estado de direito democrático. Amadurecemos e estamos prontos para mais um teste.
Hoje, vemos o futuro escapando, o país retrocedendo e a corja gozando a vida com o cofrão público, mais conhecido como o meu, o seu, o nosso lombo. Para sobreviver, eu, uma golpista que cumpre as leis; uma elitista que trabalha 12 horas por dia; uma coxinha que marchou contra a ditadura militar e pelas diretas-já, sairá à rua novamente neste 16 de agosto e lançará o grito: golpista é uma presidente que, depois de fazer o diabo para se reeleger, faz o diabo para se manter no cargo que conspurca.
Um mover asqueroso de céus e terras não para impor contra forças resistentes o saneamento de pelo menos parte dos dramas do país. Não, as estocadas intoleráveis do lulopetismo para dilatar a moral lassa que a sustenta são apenas para continuar se sustentando. Segue com desassombro amparado no fundamentalismo-institucional-do-bem-banalizado segundo o qual suspeitas e impopularidade não embasam um pedido de impeachment, como se o Brasil não tivesse contra si uma presidente sem autoridade moral e política decidida a guiá-lo para a ruína cobrando caro para isso – base concreta para um pedido de impeachment ou de renúncia. Não sei se a adesão de Dilma ao poder e ao que pensa de si a permitirá renunciar. Não sei se ela, a súcia e os conformistas institucionais esperam nos convencer de que “não adianta nada”. O que sei é que isso não filtra minha indignação e a consciência de que, como há 31 anos e como tem sido para sempre ser, a história e a resistência não terminam hoje nem em nós: somos parte delas e elas sobrevivem em nós.
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