por Aécio Neves FOLHA DE SÃO PAULO
Presenciei mais um amplo e justo reconhecimento internacional a Fernando
Henrique Cardoso, o presidente que mais fez pelo desenvolvimento do
Brasil e pelo fortalecimento de suas instituições, na nossa história
contemporânea, e que recebeu semana passada, da Câmara de Comércio
Brasil-EUA, o título "Pessoa do Ano".
Ao lado do ex-presidente americano Bill Clinton e diante de um auditório
repleto de políticos e empresários, FHC fez um discurso que já nasceu
célebre, coroado por uma frase precisa: "Pode-se governar sem
popularidade, mas não se pode governar sem credibilidade". Nada mais
atual.
Lembro que, em seus oito anos no Palácio do Planalto, FHC perdeu
popularidade, mas jamais a credibilidade. Teve sempre como bússola a
responsabilidade fiscal ao tomar medidas que, se não fossem as de
aplauso fácil, eram absolutamente necessárias para colocar o país no
mesmo passo do mundo em desenvolvimento ou impedir qualquer recuo ou
risco às preciosas conquistas da estabilidade.
Especialmente no seu segundo mandato, como se sabe, enfrentou crises
internacionais severas e instabilidades de toda ordem, além de uma
oposição implacável. Ainda assim, jamais se permitiu apelar para o
populismo barato, nem para a gestão irresponsável. O resultado foi a
entrega ao sucessor de um país muito melhor e mais sólido do que
recebeu.
Hoje, temos uma presidente que comanda um governo sem rumo, sem projeto e
sem credibilidade. E essa não é mais a visão de um militante da
oposição, mas do mundo. Fechamos a última semana com o Banco Central
emitindo um boletim que confirmou a desaceleração da atividade econômica
em todo o país.
No mesmo dia do reconhecimento a FHC, o FMI divulgou um estudo sobre a
economia brasileira, no qual aponta "a erosão da credibilidade das
diretrizes econômicas, em razão da persistente deterioração dos
resultados fiscais e da inflação acima da meta".
Mais importante do que qualquer medida formal, para as instituições
internacionais o crucial é o resgate da credibilidade e da confiança nas
decisões econômicas. Missão difícil para um partido que mentiu durante
toda a campanha e comanda um governo que não consegue convencer nem os
membros de sua própria base aliada da necessidade de um ajuste nas
contas públicas nos moldes do proposto pela administração federal.
Um governo que, em todo o primeiro mandato da presidente Dilma,
desprezou a responsabilidade e recorreu a pedaladas fiscais para
esconder os gastos irracionais e o populismo eleitoreiro. Fórmula que
pode ter até lhe dado a reeleição, mas que lhe retirou grande parte do
respeito de milhões de brasileiros.
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