Fabiano Maisonnave - UOL
Um acordo com a Bolívia negociado em 2007 pelo então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva causou prejuízo de R$ 872 milhões aos cofres da
Petrobras no ano passado, segundo o balanço da empresa. O rombo equivale
a 14% à perda atribuída pela empresa à corrupção (US$ 6,2 bi).
Em agosto, após sete anos de negociação, a Petrobras pagou à estatal
boliviana YPFB US$ 434 milhões pelo excedente energético do gás natural
vendido ao Brasil.
O "gás rico", como é chamado, nunca foi pedido nem aproveitado pela
empresa brasileira, mas passou a ser cobrado a partir do governo do
presidente Evo Morales, que assumiu o poder no país vizinho em 2006.
Ao anunciar o acordo durante visita de Morales a Brasília, em 15 de
fevereiro de 2007, Lula afirmou que os países mais ricos têm de ter
"generosidade" e "solidariedade" com economias menores.
PAGO EM DOBRO
A demora entre a assinatura e o pagamento se deveu à resistência interna
na Petrobras. O departamento jurídico da estatal chegou a recomendar
que não houvesse pagamento à Bolívia.
Para técnicos da Petrobras ouvidos pela Folha no ano passado sob a
condição do anonimato, a estatal pagou duas vezes pelo mesmo produto,
já que o poder calorífico do gás está previsto no contrato de 30 milhões
de metros cúbicos/dia, e o combustível exportado não era separado das
outras moléculas.
O prejuízo da Petrobras com esse acordo foi ainda maior do que consta no
balanço de 2014, já que, em encontro de contas, houve um abate de US$
23 milhões por causa de multas devidas pela Bolívia por problemas e
fornecimento, segundo valores informados pela YPFB.
Além disso, a estatal já havia pago uma primeira parcela de US$ 100 milhões em 2010 pelo "gás rico".
"LEGÍTIMO"
Ao justificar o pagamento no ano passado, a Petrobras afirmou que iria
gerar um saldo positivo de US$ 128 milhões (R$ 386 milhões) no final de
2014, pois o cálculo incluiria outros acordos com a Bolívia envolvendo o
gás natural, principalmente o fornecimento à térmica de Cuiabá, feito
em contrato à parte.
"A Petrobras esclarece que o cálculo é absolutamente correto. É legítimo
que a companhia considere seus acordos com a Bolívia de forma global,
pois o resultado obtido reflete um conjunto de negociações que não podem
ser vistas separadamente", escreveu o gerente de imprensa Lucio
Pimentel em carta enviada no final de agosto à Folha.
A reportagem voltou a procurar a Petrobras na última sexta (24). Cinco
dias depois, e estatal informou que não iria comentar o prejuízo causado
pelo acordo.
extraídadoblogrota2014
0 comments:
Postar um comentário