Denis Lerrer Rosenfield O ESTADO DE SAO PAULO
Se eu fosse petista, não adotaria uma postura esquizofrênica. De um
lado, em seus momentos de responsabilidade, o PT levou a cabo uma
prática social-democrata, que se assemelha aos governos
social-democratas alemães ou ao trabalhismo inglês. De outro, o partido
manteve inalterada a sua doutrina socialista, que retoma essencialmente o
que era considerado como a concepção socialista/comunista do século 20.
Na brecha dessa esquizofrenia, foi introduzido o aparelhamento
partidário do Estado, como se essa fosse uma espécie de terceira via de
sua manutenção "socialista" do poder, da qual o seu fruto mais visível é
a corrupção instalada no aparelho estatal.
Se eu fosse petista, assumiria uma postura social-democrata, abandonando
a fraseologia marxista e de conflito de classes. No governo o PT, com
nuances internas nos governos Lula e Dilma Rousseff, adotou, na prática,
uma política de tipo social-democrata, privilegiando programas sociais,
dentre os quais o mais visível foi o Bolsa Família. Na mesma esteira,
embora com apoio cubano, fez o programa Mais Médicos, visando a fornecer
atendimento a populações desatendidas de municípios carentes. O
programa Minha Casa, Minha Vida seguiu a mesma orientação, com o
objetivo de prover habitação para a população das mais baixas faixas de
renda. Do mesmo modo, fez o programa Minha Casa Melhor, com a finalidade
de possibilitar a aquisição de mobília e eletrodomésticos dessas mesmas
moradias.
Se eu fosse petista, faria o que fez a social-democracia alemã e o
trabalhismo inglês. Diga-se de passagem que a direita seguiu o mesmo
caminho no caso da Democracia Cristã na Alemanha e na Itália ou dos
governos gaullistas na França. Não é só a esquerda que faz política
social! O marxismo e o comunismo não lhe foram, nesse sentido, de
nenhuma valia, se considerarmos suas medidas sociais, próprias de
governos inseridos numa economia capitalista. Ou seja, trata-se de
iniciativas que são não só plenamente compatíveis com a economia de
mercado, mas somente nesta podem tornar-se viáveis, dada a riqueza
proveniente da livre-iniciativa e da liberdade de empreender, em
relações regradas segundo as normas do Estado Democrático de Direito.
Se eu fosse petista, lutaria por uma verdadeira renovação doutrinária, e
não por esse arremedo anacrônico constituído pelas "teses" das
diferentes tendências partidárias e pela resolução do partido. Acontece
que o programa partidário está baseado na luta de classes, na tutela
estatal, na intervenção da economia, no menosprezo ao lucro, no
desrespeito ao direito de propriedade, no desprezo à democracia
representativa e sempre colocando como objetivo final a criação de uma
"sociedade" socialista no Brasil. Note-se que o PT jamais deixou de
prestar solidariedade aos governos comunistas de Hugo Chávez, Nicolás
Maduro e dos irmãos Castro. Por mais que esses governos pisoteiem os
direitos humanos que o PT diz representar, nenhuma crítica governamental
nem partidária é a eles endereçada. Lembre-se que a ditadura cubana
vivia das mesadas da União Soviética! Tudo, evidentemente, na visão
deles é culpa do "imperialismo", apesar de o comunismo soviético, em
décadas do século 20, ter ocupado mais da metade do planeta. Sucumbiram
esses países às suas próprias contradições. Fracassaram simplesmente.
Se eu fosse petista, não endeusaria Lula. Em seus governos, o PT jamais
abandonou essas posições doutrinárias. O ex-presidente, por exemplo,
teve uma política sistemática de apoio e financiamento de uma
organização revolucionária como o MST. Deu sustentação a invasões de
propriedades rurais, em manifesto desrespeito ao direito de propriedade,
algo muito próprio da esquerda revolucionária. Sustentou, embora sem
sucesso, várias tentativas de controle da imprensa e dos meios de
comunicação, por intermédio das conferências nacionais. Apoiou
iniciativas de conselhos populares e conferências com o claro intuito de
minar as bases da democracia representativa. Apoiou o aparelhamento
partidário do Estado, tendo a corrupção do mensalão como símbolo e
legado seu. Aliás, também em seu governo é que foram assentadas as bases
do petrolão.
Se eu fosse petista, depuraria o governo Dilma de suas contradições. A
presidente Dilma distanciou-se de algumas posições de Lula e do PT,
sinalizando uma renovação. Em seu primeiro mandato procurou afastar-se
da corrupção, tentando uma faxina ética em seu Ministério, não tendo,
porém, conseguido sustentar essa posição. No que diz respeito ao MST,
relegou essa organização revolucionária a posição secundária. Foi,
ademais, defensora intransigente da liberdade de imprensa e dos meios de
comunicação, não tendo levado adiante o projeto de "controle social dos
meios de comunicação" deixado por seu antecessor. Por outro lado, no
que concerne aos conselhos populares tentou, com um decreto, fazer valer
essa proposta revolucionária que solaparia as bases mesmas da
democracia representativa. Sua recaída esquerdista foi manifesta.
Seguindo, ainda, a mesma orientação de esquerda, seguiu as linhas de um
capitalismo de compadrio com intervenção estatal crescente, cujo
desfecho estamos hoje vivenciando com produto interno bruto (PIB)
negativo, inflação que estourou o teto da meta e juros estratosféricos.
Agora, neste seu segundo mandato, volta-se para os ditos "movimentos
sociais" que desprezara.
Se eu fosse petista, aceitaria as críticas e faria uma autocrítica. No
que diz respeito à corrupção, o PT nega, contra todas as evidências, a
sua participação. Afastou o tesoureiro João Vaccari Neto somente depois
de ele ter sido preso e, ainda assim, fazendo a sua defesa. No mensalão,
considerou os seus artífices "guerreiros do povo brasileiro", em clara
afronta às nossas instituições republicanas. Pior ainda, o PT ataca
essas mesmas instituições republicanas, como o Ministério Público, o
Poder Judiciário e a Polícia Federal, e a imprensa e os meios de
comunicação, que são os pilares de uma sociedade livre.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014





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