por Júlio Ribeiro.
A expressão democracia vem sendo usada, há décadas, por tudo o que é tipo de gente. De tiranetes a corruptos de toda ordem, de pequenos ditadores a cúmplices de todo o tipo. Isso, nos “quatro cantos” da Terra.
Aqui no Brasil, “democracia” tem sido o mantra para tudo, especialmente para a bandalheira que se praticou nas ultimas décadas no país. Em nome dela, se formaram conchavos, alianças, quadrilhas e se assaltou os cofres públicos como “nunca antes na história deste país”!
Eu sou um profissional da liberdade, vivo dela e dela me alimento. Sou contra toda a ditadura, a todo o regime em que pessoas com pensamentos diferentes não possam se expressar, conviver, coexistir. Dito isso, sou contra golpes, militares ou civis.
Mas, sou forçado pela realidade a admitir que não soubemos usar, viver e tirar o melhor que a democracia pode nos oferecer. Saímos da “longa noite” do regime militar para a refulgente claridade da democracia, há quase 40 anos, e o que fizemos dela?
Um crescente, sofisticado e acachapante sistema de corrupção foi se formando sob o olhar complacente da “democracia”. Um câncer com metástase nas casas legislativas — o Congresso é apenas a mais poderosa e aparente —; nos executivos municipais, estaduais e federal; no judiciário e em suas cortes; no empresariado; na mídia; em organizações da sociedade civil. Um cancro generalizado, responsável por dizimar nosso presente e futuro. Trilhões de cruzeiros, cruzados, reais foram roubados, sistemática e impiedosamente, em favor dos de sempre e em detrimento da maioria do povo brasileiro, ocupado em trabalhar e pagar impostos crescentes para alimentar ao monstro criado no ambiente “democrático”.
Falhamos e falimos como Nação.
Mas, em determinado momento, essa grande massa, a quem sempre só coube pagar a conta, acordou. A internet e as redes sociais deram acesso a outros meios de informação, deram voz e capacidade de mobilização a esses brasileiros. E, pela primeira vez, em sua história, o Brasil das ruas roncou mais forte que o Brasil dos gabinetes, e demos um basta, um “não rotundo a tudo isso”.
Bolsonaro não é a causa, é a consequência. Ele não é o líder, o líder somos nós, ele apenas representa a angústia, a indignação e os anseios de milhões de brasileiros que votaram nele, um deputado do baixo clero, sem grande retórica e homilética, com um jeitão meio tosco de se comunicar, mas que entendeu e personificou a nossa indignação.
Nesses 15 meses de governo, ele não se afastou um centímetro das causas que o elegeram. Não negociou cargos com o Congresso — nesses anos de “democracia” os ministérios e estatais, com suas polpudas verbas, viraram feudos deste ou daquele partido, que os transformaram em balcões de negócios, em dutos de corrupção e enriquecimento ilícito. Não compactou com a corrupção; buscou diminuir o tamanho do Estado brasileiro, buscando diminuir o peso que ele exerce sobre as costas de quem trabalha, produz e empreende. Ousou querer diminuir a burocracia estatal. E pretendeu, num ato de quase suicídio institucional, acabar ou diminuir os privilégios do setor público, pagos regiamente pelos trabalhadores e empreendedores da iniciativa privada.
Obviamente, como se poderia esperar, o sistema reagiu. Afinal, são 15 meses de abstinência. Quase um ano e meio sem poder colocar a mão no nosso bolso. E aí essa canalha se aproveita de uma crise sanitária, como essa causada pelo vírus chinês, pra tentar inviabilizar o país, invadindo e comprometendo o Orçamento da União, enquanto deixa caducar Medidas Provisórias que poderiam assegurar empregos, como a MP da Carteira Verde Amarela. Eles não estão pensando no Brasil, não estão pensando em mim e em você, estão pensando, exclusivamente, na volta da sacanagem, da pilhagem, do dinheiro fácil que sempre escorreu dos cofres públicos direto para seus bolsos e contas. E esses vermes, que fazem tudo isso, ainda têm a coragem de falar em “democracia”. Nossa democracia respira por aparelhos, está entubada pela ação desses vermes.
O vírus chinês é o que menos importa a essa gente. Eles querem é super faturar compras, contratar apadrinhados sem licitação, e tudo mais para se locupletar. Vejam o caso dos hospitais de campanha do Rio de Janeiro. Imaginem isso em todo o território nacional.
Não, definitivamente, não podemos encher a boca para falar em “democracia”, porque o poder não tem emanado do povo e para o povo. A nós só nos compete votar e calar. Bem, isso é o que eles querem, mas não terão. As pessoas que tem ido para frente dos quartéis pedir intervenção militar, e que muitos acham doidos, estão desencantados, desesperados com o que foi feito com a nossa “democracia”. Elas são a febre que mostra que algo está errado, muito errado, em nossas instituições. O remédio não é a ditadura militar — porque se sabe como se entra, mas não se sabe como se sai. O remédio tem que vir das próprias instituições: Congresso, STF, e outros quetais, que precisam ouvir o som rouco das ruas e passar a representar os interesses reais do povo brasileiro. É o que o Brasil precisa. É o que teremos?
*Júlio Ribeiro é jornalista, diretor-geral do Portal Press e da Revista Press, coordenador do Prêmio Press, o mais cobiçado prêmio de jornalismo do Brasil e coordenador do Clube de Opinião, que reúne cronistas de política no Rio Grande do Sul.
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