por Guilherme Fiuza
Duas mulheres e seus filhos — uma menina e um menino de 14 anos — foram presos na orla do Rio de Janeiro. As crianças são atletas juvenis de natação e haviam atravessado um trecho do mar de Copacabana, sem permanecer na faixa de areia. A polícia abordou o grupo e, mesmo sem nenhuma resistência, o prendeu e enfiou num camburão.
O objetivo alegado pelas autoridades é evitar o contágio por coronavírus. Eram duas crianças nadando no mar e, na mesma hora, diversos adultos circulando pela orla. Praia é areia, mar e calçada? Quantos metros para dentro e quantos para fora? O vírus gosta mais de nadar sozinho ou de caminhar em grupo? Ele respeita os que a polícia não aborda (especialmente jornalistas) e ataca os que a polícia escolhe? Ou os que o governador manda escolher?
Seja como for, nunca se viu nada parecido em tempos democráticos, ou supostamente democráticos. Cumprir uma medida sanitária com vários homens armados atirando sumariamente duas cidadãs pacíficas e suas crianças num camburão é um atentado estatal. É uma coação violenta. E é, se tolerado pelas instituições que guarnecem a democracia, a oficialização da brutalidade.
Mais uma vez, não se vê reação alguma das diversas entidades humanitárias nacionais e internacionais, essas que vivem anunciando a volta da ditadura no Brasil para amanhã, mas que não veem o pau comendo hoje. Ou melhor: fingem que não veem, escondidas e voluntariamente amordaçadas em seu confinamento vip. Que vexame.
A própria Organização Mundial da Saúde, matriz da recomendação de distanciamento social, já alertou para a questão de que a medida não pode ser aplicada indiscriminadamente em todo o planeta. As duas variáveis para a relativização do lockdown são claras: áreas que estiverem fora dos focos principais da pandemia e que tiverem população socialmente vulnerável — dependendo de circulação para seu sustento imediato. O Brasil está nos dois casos.
Mas os tiranetes locais, que diziam seguir a OMS e a ciência, agora não querem mais saber de nenhuma das duas. Querem prender e arrebentar fingindo que estão salvando vidas, tentando enganar o maior número possível de distraídos, amedrontados e otários para impor sua politicagem na marra.
Os governadores do Rio e de São Paulo, por exemplo, assumiram o cargo em 1º de janeiro de 2019 já agindo ostensivamente em função de seu fetiche presidencial. Ambos fizeram questão de não disfarçar. A covid é só mais uma aliada. Trancar o país e barbarizar as pessoas, na lógica dessas mentes doentias, é um passaporte dourado para o poder central. Simples assim. A simplicidade mental, aliás, é característica inata de todo androide.
Mas deveria ser para o resto da sociedade, que parece mergulhada num surto de catatonia — hoje certamente mais amplo e perigoso que o do coronavírus. Governadores, prefeitos e autoridades locais em geral ameaçam todos os dias a população com a iminência do colapso hospitalar. Ninguém demonstra a curva de progressão epidêmica que esgotará a curto prazo os leitos de UTI. Proliferam pedidos por mais hospitais de campanha ao lado de hospitais ociosos. Já há uma força-tarefa para apurar desvios e superfaturamentos nas verbas emergenciais — sim, os vermes estão entre nós. E a população paralisada diante da TV.
A OMS morde e assopra. Fez as ressalvas ao lockdown total, ao mesmo tempo em que solta alertas genéricos de que o pior da epidemia ainda pode estar por vir — tipo de manchete valiosa para Dorias, Witzels, Caiados, Barbalhos e terroristas associados do pânico viral. Quanto mais tempo de tranca, melhor a ruína — e você achava que só existia ruína ruim.
Ou o Brasil se liberta agora do sequestro, ou vai acabar tendo de mendigar a subsistência a seus algozes.
Revista Oeste
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