por Fernando Fabbrini.
Assim como as vacinações obrigatórias na infância, acho que todos deveriam ler “A Revolução dos Bichos” de George Orwell antes da maioridade. Recomende-o a seus filhos adolescentes, tem PDF na internet. O livro provoca o surgimento de anticorpos ideológicos no organismo do leitor, prevenindo contra febres típicas da idade, uma vez que o esquerdismo radical é uma epidemia que esporadicamente grassa mundo afora nos grupos de risco dos jovens e ingênuos.
Quase todos recém-chegados ao planeta caem na sedução fantasiosa da sociedade perfeita, sem classes, feliz e saltitante. E aí, seus sonhos legítimos de um mundo mais justo são sugados pelo esquerdismo para fins escusos. Muitos superam a virose e saem imunes a futuras mutações. Outros, infelizmente, são infectados para sempre e terminam seus dias como blogueiros raivosos, ativistas-feicebuque ou ferrenhos militantes do atraso. Não têm cura.
Baseando-se no terror da União Soviética pós-guerra, Orwell descreveu o sistema tirânico onde “todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”. Na analogia - simples, porém magistral - o autor denuncia e ironiza a clássica estrutura comunista, onde uma grande massa iludida (e invariavelmente faminta) sustenta uma gorda elite de mandatários, secretários, comissários, companheiros – esse tipo de gente que namora regimes opressores e a boa-vida às custas de dinheiro público.
Ao escrever sua obra, em 1945, George Orwell não imaginava que daí a quatro décadas a burocracia anacrônica ditatorial russa desencadearia o pior acidente nuclear da história. Os reatores do tipo RBMK de Chernobyl e de outras usinas soviéticas tinham um erro absurdo de projeto – todos sabiam, mas ninguém podia tocar no assunto. Ditadura é assim: abriu o bico, criticou? Sumiu. Quando explodiu o reator 4, o temor de assumir a culpa e a fuga de responsabilidades ao longo da escala hierárquica deu a dimensão da tragédia.
Ditaduras – cubanas, russas, chinesas, árabes, coreanas, tailandesas, sejam lá de onde forem, de esquerda ou direita - são idênticas na condução desses episódios de acidentes abafados. Há pouco, o Irã custou a admitir seu erro ao abater o avião ucraniano. Agora, na pandemia, a ditadura chinesa seguiu a mesma cartilha. Enrolaram para avisar sobre a nova peste, tiraram o corpo fora, despistaram. E quando finalmente deram explicações, surgiram controvérsias assustadoras.
O cientista francês Luc Montagnier, prêmio Nobel de Medicina de 2008, alertou que o novo coronavírus teria sido fabricado artificialmente num laboratório chinês no final de 2019. O Wuhan Institute of Virology abriga pesquisas de alta segurança em cepas de coronas. Montagnier supõe que os chineses trabalhavam numa vacina contra a Aids e empregaram o vírus num teste. Um acidente – talvez lambança do pesquisador-chefe sob as vistas do pesquisador-ajudante, que ficou caladinho de medo – fez a coisa se espalhar.
Envolvido que está com a pandemia e seus percalços, o mundo não pode ignorar estranhos acontecimentos simultâneos dos bastidores. A revista "Forbes" publicou semana passada uma extensa reportagem com alertas para a fúria desenfreada de aquisições de empresas ocidentais em apuros “com baldes e mais baldes de dinheiro chinês”. A China vem comprando corporações, portos, emissoras de TV, infraestruturas, participações acionárias, tudo que indique um bom negócio. E, sobretudo, vem comprando tecnologia.
Irônico, o jornalista Kenneth Rapoza, que assina a matéria da "Forbes", escreveu: “é um milagre que a Itália ainda produza máquinas de café expresso 100% italianas”. A invasão chinesa no país da moda e da beleza é uma das mais antigas e ostensivas. No caso do café, ao menos é um milagre bem-vindo. Ninguém gostaria de correr o risco de se expor a uma nova trapalhada ditatorial justamente nos pequenos prazeres da vida, como saborear um cappuccino.
* Publicado originalmente no jornal O Tempo de Belo Horizonte e enviado pelo autor.
** https://www.otempo.com.br/opiniao/fernando-fabbrini/trapalhadas-comunistas-1.2327872
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