Jornalista Andrade Junior

domingo, 26 de abril de 2020

TRAPALHADAS COMUNISTAS

por Fernando Fabbrini.

Assim como as vacinações obrigatórias na infância, acho que todos deveriam ler “A Revolução dos Bichos” de George Orwell antes da maioridade. Recomende-o a seus filhos adolescentes, tem PDF na internet. O livro provoca o surgimento de anticorpos ideológicos no organismo do leitor, prevenindo contra febres típicas da idade, uma vez que o esquerdismo radical é uma epidemia que esporadicamente grassa mundo afora nos grupos de risco dos jovens e ingênuos.
Quase todos recém-chegados ao planeta caem na sedução fantasiosa da sociedade perfeita, sem classes, feliz e saltitante. E aí, seus sonhos legítimos de um mundo mais justo são sugados pelo esquerdismo para fins escusos. Muitos superam a virose e saem imunes a futuras mutações. Outros, infelizmente, são infectados para sempre e terminam seus dias como blogueiros raivosos, ativistas-feicebuque ou ferrenhos militantes do atraso. Não têm cura.
Baseando-se no terror da União Soviética pós-guerra, Orwell descreveu o sistema tirânico onde “todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”. Na analogia - simples, porém magistral - o autor denuncia e ironiza a clássica estrutura comunista, onde uma grande massa iludida (e invariavelmente faminta) sustenta uma gorda elite de mandatários, secretários, comissários, companheiros – esse tipo de gente que namora regimes opressores e a boa-vida às custas de dinheiro público.
Ao escrever sua obra, em 1945, George Orwell não imaginava que daí a quatro décadas a burocracia anacrônica ditatorial russa desencadearia o pior acidente nuclear da história. Os reatores do tipo RBMK de Chernobyl e de outras usinas soviéticas tinham um erro absurdo de projeto – todos sabiam, mas ninguém podia tocar no assunto. Ditadura é assim: abriu o bico, criticou? Sumiu. Quando explodiu o reator 4, o temor de assumir a culpa e a fuga de responsabilidades ao longo da escala hierárquica deu a dimensão da tragédia.
Ditaduras – cubanas, russas, chinesas, árabes, coreanas, tailandesas, sejam lá de onde forem, de esquerda ou direita - são idênticas na condução desses episódios de acidentes abafados. Há pouco, o Irã custou a admitir seu erro ao abater o avião ucraniano. Agora, na pandemia, a ditadura chinesa seguiu a mesma cartilha. Enrolaram para avisar sobre a nova peste, tiraram o corpo fora, despistaram. E quando finalmente deram explicações, surgiram controvérsias assustadoras.
O cientista francês Luc Montagnier, prêmio Nobel de Medicina de 2008, alertou que o novo coronavírus teria sido fabricado artificialmente num laboratório chinês no final de 2019. O Wuhan Institute of Virology abriga pesquisas de alta segurança em cepas de coronas. Montagnier supõe que os chineses trabalhavam numa vacina contra a Aids e empregaram o vírus num teste. Um acidente – talvez lambança do pesquisador-chefe sob as vistas do pesquisador-ajudante, que ficou caladinho de medo – fez a coisa se espalhar.
Envolvido que está com a pandemia e seus percalços, o mundo não pode ignorar estranhos acontecimentos simultâneos dos bastidores. A revista "Forbes" publicou semana passada uma extensa reportagem com alertas para a fúria desenfreada de aquisições de empresas ocidentais em apuros “com baldes e mais baldes de dinheiro chinês”. A China vem comprando corporações, portos, emissoras de TV, infraestruturas, participações acionárias, tudo que indique um bom negócio. E, sobretudo, vem comprando tecnologia.
Irônico, o jornalista Kenneth Rapoza, que assina a matéria da "Forbes", escreveu: “é um milagre que a Itália ainda produza máquinas de café expresso 100% italianas”. A invasão chinesa no país da moda e da beleza é uma das mais antigas e ostensivas. No caso do café, ao menos é um milagre bem-vindo. Ninguém gostaria de correr o risco de se expor a uma nova trapalhada ditatorial justamente nos pequenos prazeres da vida, como saborear um cappuccino.



*   Publicado originalmente no jornal O Tempo de Belo Horizonte e enviado pelo autor.
** https://www.otempo.com.br/opiniao/fernando-fabbrini/trapalhadas-comunistas-1.2327872

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