Jornalista Andrade Junior

sábado, 18 de abril de 2020

Augusto Nunes traça um retrato 3x4 de José Dirceu, capitão da organização criminosa do Lula

Revista Oeste

José Dirceu de Oliveira e Silva, o mineiro de Passa Quatro que virou líder do movimento estudantil paulista em 1968 e provocou num único dia a prisão de mais de mil militantes, o impetuoso guerrilheiro diplomado em Cuba com o codinome Daniel que nunca disparou balas de verdade, o intrépido revolucionário que remodelou o nariz, fantasiou-se de comerciante de gado, falsificou a carteira de identidade e passou cinco anos escondido no interior do Paraná, o capitão do time de Lula que seria expulso de campo por ladroagem, o consultor conhecido como Jay Dee que enriqueceu como facilitador de negociatas, o Guerreiro do Povo Brasileiro aclamado só pelas plateias amestradas do PT — ele mesmo, o Zé Dirceu velho de guerra resolveu dar um jeito na pandemia que anda assustando o Brasil. 
Boa notícia para o vírus chinês. 
Faz quase 60 anos que Zé Dirceu sai derrotado de todas as brigas que arruma, quebra a cara em qualquer barulho que se meta.
O formidável acervo de fiascos foi inaugurado em 1968, quando o jovem presidente da filial paulista da União Nacional dos Estudantes resolveu tornar mais romântica e emocionante a missão que lhe fora encomendada no ano anterior: organizar o 30º Congresso da UNE. De cara, ele resolveu que o encontro seria clandestino. 
Cabeças menos confusas ponderaram que talvez fosse mais sensato realizar o evento no câmpus da USP e à vista de todos. Embora o congresso fosse proibido, argumentaram, a polícia hesitaria em invadir a universidade diante da multidão de testemunhas. 
Dirceu bateu o pé e pisou no acelerador: os mais de mil participantes se reuniriam numa fazenda nos arredores de Ibiúna, município a 90 quilômetros de São Paulo com menos de 10 mil habitantes. 
Até os cegos da cidadezinha contemplaram com estranheza a passagem da procissão de forasteiros, quase todos cobertos com um poncho. O adereço cucaracha foi a salvação da lavoura.
O planejador do congresso não examinara com a devida atenção detalhes relevantes. Se fizesse uma visita prévia à fazenda, Dirceu saberia que não havia acomodações para mais de 200 pessoas. Se conferisse os boletins meteorológicos, descobriria que andava chovendo muito por lá — e mais ainda choveria ao longo dos três dias de discurseiras e deliberações. 
Na primeira noite, centenas de jovens pouco familiarizados com as coisas do campo tentaram dormir ao relento, estendidos sobre o terreno enlameado, com o poncho improvisado em cobertor e cobertura. Na hora da alvorada, a turma da logística constatou que esquecera de providenciar mantimentos básicos. 
Dirceu mandou um ordenança encomendar 1.200 pães por manhã a um padeiro que nunca fora além dos 300 por dia. Intrigado, o padeiro procurou o delegado, que telefonou para o superior hierárquico, que alertou o comandante da Polícia Militar, que repassou o aviso ao secretário de Segurança Pública. E todo mundo acabou na cadeia.
Foi a primeira das três temporadas na prisão. Com tempo de sobra, Dirceu planejou o Brasil comunista com a mesma segurança exibida na entrevista em que explicou como será o Brasil pós-coronavírus. Poucas semanas de isolamento social bastaram para concluir que a vitória sobre o coronavírus é iminente. 
Antes de mais nada, aliás, o país precisa reconhecer que só venceu a covid-19 porque Lula criou o SUS, a educação pública e gratuita, a merenda escolar, a Previdência e os bancos públicos, fora o resto. Tudo somado, a nação deve a um ex-presidiário a montagem do que Dirceu chama de 
“Estado de bem-estar social”. 
Feita a constatação, ele revela os dois itens da receita para liquidar a crise: calote da dívida externa e congelamento da dívida interna. Então chegaria a hora de rediscutir o capitalismo. 
“O Brasil é rico, desenvolvido”, anima-se o chefe da quadrilha do Mensalão. O xis da questão está na estrutura tributária, no sistema financeiro bancário e na escandalosa concentração de renda. 
“É preciso uma revolução social no Brasil”, recita o incansável lutador. 
“É preciso rediscutir o capitalismo e repensar a forma de organização da vida.” Tradução: é preciso modernizar o país com a instauração de uma ditadura socialista.
E enxergar o Mundo Novo numa velharia morta no parto e sepultada nos escombros da União Soviética é o que Dirceu já fazia na cadeia onde mofou entre outubro de 1968, no desfecho do Woodstock sem cantoria em Ibiúna, e setembro de 1969, quando foi incluído no grupo de prisioneiros libertados em troca da sobrevivência do embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado no Rio por organizações partidárias da luta armada. 
Primeiro, o combatente cansado do ócio na gaiola foi descansar na França. Empunhou taças de vinho nos bistrôs de Paris até decidir matricular-se no cursinho de guerrilheiro em Cuba. 
Em Havana, o esforçado calouro Daniel aprendeu a simular combates na cidade e no campo com fuzis de segunda mão e balas de festim, submeteu-se a uma cirurgia para ficar com o nariz adunco e declarou-se pronto para derrubar a tiros o regime militar. 
Na primeira metade dos anos 70, voltou ao Brasil para matar ou morrer numa guerrilha rural que sucumbiu antes do nascimento.
Ao ver que a guerra revolucionária era mais feia do que imaginara, Dirceu optou pela guerra conjugal. Em vez de trocar chumbo no campo, achou mais prudente trocar alianças em Cruzeiro do Oeste. 
Apareceu na cidade paranaense com o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello, casou-se com a dona da melhor butique do lugar e entrincheirou-se por trás da caixa registradora do Magazine do Homem. 
Só saía do esconderijo para esconder-se em casa ou dar pancadas em bolas de sinuca no bar da esquina. Ganhou o apelido de Pedro Caroço, aquele personagem de música que vivia de olho na butique dela. 
Só em 1979, quando a anistia foi decretada, a mulher com quem tivera um filho cinco anos antes soube que vivera ao lado do combatente comunista menos combativo de todos os tempos. Livre de perigos, livrou-se da família, afilou o nariz com outra cirurgia plástica e foi para São Paulo ajudar a fundar o PT.
Antes de ameaçar São Paulo com a fracassada candidatura a governador, governou as bancadas do PT na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. Em 2003, depois de coordenar a campanha presidencial, virou chefe da Casa Civil, foi promovido a capitão do time de Lula e acreditou que, ao fim de oito anos, seria o que Dilma Rousseff foi. 
Mandou e desmandou até a explosão do escândalo protagonizado por Valdomiro Diniz, o amigo vigarista com quem dividiu um apartamento em Brasília antes de nomeá-lo assessor para Assuntos Parlamentares da Casa Civil. Em 2005, afundado no escândalo do Mensalão, foi despejado do gabinete no Planalto. 
Prometeu lutar no Planalto e na planície, mobilizando a companheirada dos “movimentos sociais”. Conseguiu ser cassado por uma Câmara dos Deputados que não pune sequer serial killer de filme norte-americano.
Em 2012, condenado pelas bandalheiras do Mensalão, entrou no presídio erguendo o braço esquerdo com o punho cerrado enquanto uns gatos-pingados saudavam o guerreiro do povo brasileiro. Saiu da gaiola pronto para retomar a vida bandida como oficial graduado da tropa de ladrões multipartidários que compôs o maior esquema corrupto da história. 
Enjaulado de novo pelo que fez na quadrilha do Petrolão, recuperou o direito de ir e vir graças à usina de habeas corpus gerenciada pelo ministro Gilmar Mendes. 
Com mais de trinta anos a cumprir, o isolamento social o alcançou desfrutando da prisão domiciliar. 
A milhagem da tornozeleira que deveria usar não chega a 100 passadas. Para quem já se qualificou de “cadeiero”, o confinamento imposto pelo vírus chinês é tão penoso quanto uma caminhada de 50 metros para maratonistas.
Aos 75 anos, o homem que poderia ter sido e não foi tanta coisa perdeu todas, perdeu quase tudo, mas não perdeu a pose. “Tenho uma biografia a preservar”, vive recitando. Como também colecionou casamentos, deve-se deduzir que de vez em quando alguma mulher enxerga uma biografia a preservar no alentado prontuário a esconder. 

Como sabem disso todos os brasileiros com mais de 40 neurônios, poucos leitores desavisados perderam tempo com o livro de memórias, lançado meses atrás, que oculta as derrotas sofridas por um perdedor vocacional e os crimes cometidos pelo meliante sem remédio. 

O livro vale tanto quanto o autor: nada.















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