por Ronaldo Caiado Folha de São Paulo
Nem a tradicional calmaria do recesso parlamentar no início do ano
aliviou a sequência de fatos negativos gerados pelas crises econômica e
política. Não bastasse isso, o governo sinaliza dar os mesmos passos
equivocados que nos trouxeram até aqui.
Se em 2014 houve o prenúncio da crise e em 2015 o estabelecimento da
recessão, 2016 já está se configurando como um ano de agravamento dos
sintomas decorrentes desse mal. A inflação de dois dígitos ressurgiu em
janeiro com o patamar elevadíssimo. No mercado de trabalho, começamos o
período com 1,5 milhão a menos de empregos, com queda no valor dos
salários. Isso tudo no discurso populista do governo Dilma se tornou
motivo de comemoração porque "as conquistas dos trabalhadores não foram
destruídas".
O cenário de ingovernabilidade também persiste, embora mais uma vez o
Palácio do Planalto tente vender a ideia de que o pior momento já
passou. Sem apoio dos setores produtivos, da população e muito menos do
Congresso, a tentativa de recriar uma CPMF é pura ficção.
O governo aposta todas as suas fichas para equilibrar as contas públicas
na recriação do imposto, embora mal possua base para passar o assunto
nas comissões antes de ir a plenário. Ainda assim, ideólogos e
marqueteiros se organizam para tentar vender uma campanha de que a CPMF
será um "imposto sobre os ricos", o que não faz o menor sentido –não que
isso importe para eles.
Agora insiste em medidas de crédito com taxas favorecidas e expansão da
despesa pública. A velha ladainha de que a ampliação dos gastos atrairia
mais investidores, fato que já é errado por si só, mas se torna ainda
mais inverídico porque ninguém vai querer investir em um país que
somente em um ano cai sete posições no ranking de corrupção e segue sob o
controle da mesma organização criminosa desbaratada.
Por outro lado, os cães de guarda do partido, sob a tutela da "vivalma
mais honesta do país", ajustaram o alvo para atacar as instituições
democráticas do país via Operação Lava Jato. Nada menos republicano,
nada menos ofensivo ao Estado, nada menos desesperado. As investigações
já estão tão próximas do ex-presidente que já batem na porta do vizinho
–literalmente.
Ao tentar desqualificar Justiça Federal, Polícia Federal e Ministério
Público, a única coisa que Lula e sua turma conseguem é assegurar que as
investigações estão indo no rumo certo. Quanto mais chiadeira do PT,
mais próximo estamos de chegar ao núcleo central dessa quadrilha.
E Dilma ainda fala em diálogo com a oposição. Sabemos do pensamento
intransigente de uma presidente que só cede quando é encurralada pela
militância bolivariana do PT, que volta e meia tenta dar seus pitacos na
política econômica levando a uma situação a qual nem o Joaquim Levy
aguentou. A oposição e demais formadores de opinião sempre apontaram
caminhos, mas Dilma escolheu o sentido oposto e rotulou todos de
"pessimistas".
O que 7 em cada 10 brasileiros já sinalizam de forma muito clara é que
não dá mais aceitar o lulopetismo comandando o país. O Congresso volta
na segunda-feira (1º) mais sob pressão do que em dezembro. Se a Justiça
afasta a chapa do governador do Amazonas, José Melo, por compra de
votos, a de Dilma, com todas as denúncias e provas, não é sequer
julgada.
Manter o governo Dilma/Lula é se curvar a uma quadrilha que se apoderou
do poder. O processo de impeachment deve correr em paralelo à evolução
das investigações. Basta a Polícia Federal bater na porta certa que o
clamor popular dará conta de levar o recado ao Congresso.
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