editorial da Folha de São Paulo
Demagogia, oportunismo e mistificações diversas campeiam no debate
político em torno da necessidade de contenção dos gastos públicos, em
particular daqueles destinados aos programas sociais.
Pela tese mais encontradiça, aponta-se que ajustes orçamentários porão
em risco –ou propositalmente eliminarão– iniciativas de redistribuição
de renda e combate à pobreza. Sem negar que haja sacrifícios pela
frente, cumpre refutar tal argumento.
O aparato de seguridade e os direitos instituídos pela Constituição de
1988 decerto constituem conquistas civilizatórias e alicerces do período
mais pleno de democracia no país. Justamente para preservar tais
avanços, é imperativo adequá-los aos recursos disponíveis para seu
financiamento.
Despesas com previdência e assistência social, educação, saúde e amparo
ao trabalhador consomem hoje, nas três esferas de governo, cerca de 19%
do PIB –vale dizer, da renda de todos os brasileiros.
Esses desembolsos ficavam em torno de 13% no início da década passada.
Com o processo inexorável de envelhecimento da população, os encargos
passam por uma escalada que se tornará cada vez mais aguda nos próximos
anos.
A trajetória seria menos alarmante se desfrutássemos de crescimento
econômico acelerado, capaz de, simultaneamente, ampliar a arrecadação
tributária e reduzir a clientela das ações assistenciais. A realidade,
porém, é bem outra.
As mais recentes estimativas do FMI evidenciam o desempenho insuficiente
do país. Entre 1996 e 2015, o PIB global mais que duplicou, e o dos
emergentes quase triplicou; o brasileiro cresceu na casa dos 70%. No ano
passado, o PIB per capita nacional caiu de US$ 16,2 mil para US$ 15,7
mil.
Evidencia-se nos resultados o peso de uma máquina estatal que absorve em
tributos mais de um terço da renda das famílias e empresas; cujo
endividamento, elevado e crescente, demanda juros que deprimem os
investimentos.
Sem um equacionamento gradual e planejado dos gastos, portanto, a
política social está fadada a sofrer um ajuste, mais doloroso, imposto
pelas leis da escassez –uma disputa caótica por verbas entre escolas,
hospitais, aposentados e desempregados.
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