por Kim Kataguiri Folha de São Paulo
Vez ou outra, um esquerdista, geralmente mais velho do que eu,
pergunta-me algo assim: "Como você pode ser tão jovem e defender ideias
tão retrógradas?".
Ou: "Que mudança você quer ao defender as instituições? Por que não uma
revolução?". Ou ainda: "Que rebeldia é essa que propõe 'o império da
lei'?".
É fato que a juventude costuma ser protagonista de mudanças relevantes
ao se rebelar contra os pais, contra o sistema, contra os costumes... É
estranho ouvir um jovem falar em "fortalecimento das instituições" ou
"império da lei"? Soa conformista? Para definir o que é conformismo ou a
defesa do status quo, primeiro precisamos entender a forma que o
establishment assumiu no Brasil.
Há mais de 13 anos, somos governados por um partido que não respeita as
instituições. A natureza do mensalão e do petrolão mostra que, para o
PT, a corrupção é uma norma e uma forma de governo. Grandes obras ou
mudanças legais não foram levadas a efeito em razão de um bom diálogo
com o Congresso ou de uma relação republicana com a iniciativa privada.
Tanto a engrenagem da aprovação de leis como a da construção de obras
foram lubrificadas pela propina.
Os sindicatos e os "movimentos sociais", como a CUT, o MST e o MTST,
dizem criticar o governo, mas tudo o que fazem é falar mal do "ajuste
fiscal", que, na prática, nem o PT defende. Nas ruas, adotam a narrativa
oficial. Utilizam manifestações "em favor da democracia" para defender
Dilma Rousseff e espernear contra uma tal "oposição golpista".
A União Nacional do Estudantes, aquela entidade que, ao lado da CBF, é
adepta de eleições indiretas, vive fazendo manifestos em favor de "mais
verbas para a educação". O governo Dilma cortou R$ 10,5 bilhões do
orçamento da área em 2015, o correspondente a 10%. Essa falsa rebeldia
da UNE em defesa do poder não é assim tão incondicional: desde 2006, a
entidade já recebeu mais de R$ 55 milhões dos governos petistas. Na
economia de mercado, que eu defendo, não existe almoço grátis. No
socialismo da UNE, só a dignidade tem preço.
O Movimento Passe Livre (MPL), que, como já escrevi nesta coluna,
organiza protestos que apelam a práticas terroristas, preserva de forma
sistemática o governo federal, maior responsável pelo reajuste das
passagens. Suas manifestações são chamadas pela presidente Dilma
Rousseff –a mesma que considera "golpismo" os protestos em favor do
impeachment– de "questões da democracia". Em que democracia o terrorismo
e o quebra-quebra são liberados?
Corrupção institucionalizada, Congresso comprado, empresários vendidos,
movimentos sociais que são instrumentos de um partido, sindicatos
cooptados que fornecem quadros para a gestão do Estado, atentados contra
a tripartição do Poder, terrorismo tratado como questão democrática e
"estudantes rebeldes" que protestam a favor... Não será este o rosto
cuspido e escarrado do pior establishment?
Não há nada de retrógrado em defender o fortalecimento da República e o
empoderamento da sociedade. Nosso país já experimentou ditaduras e
democracias populistas e nacional-desenvolvimentistas. Hoje, estamos
submetidos à cleptocracia petista. Os valores republicanos já foram
violados pelos tanques e pelas canetas. Chegou a hora de defendermos o
fortalecimento das instituições e o aumento do poder da sociedade diante
do Estado.
Na verdade, já passou da hora de nos rebelarmos contra esse
establishment. Não é preciso ser jovem para isso. É preciso ter uma
dignidade que não se vende nem se compra.
Num país em que a esculhambação é a regra, defender as instituições e o império da lei é que é revolucionário.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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