editorial de O Globo
O rebaixamento da nota de risco do Brasil, anunciado ontem pela
Santandard & Poor’s, é o segundo desde setembro do ano passado, e
não foi surpresa. O quadro econômico do país e suas perspectivas
justificam que de fato a nota de “BB+”, já no nível especulativo, passe
para “BB”, a dois patamares da classificação de investimento seguro. E
as duas outras agências mais consideradas do mercado, Moody’s e Fitch,
deverão seguir o mesmo caminho.
A justificativa básica da S&P para mais este corte da nota do Brasil
é que permanece alta a possibilidade de o governo não equilibrar o
Orçamento. Ela estima que o déficit nominal médio será neste e no
próximo ano de 8% do PIB, muito elevado, não muito distante do
verificado em 2015. Assim, a dívida pública continua em marcha batida
rumo aos preocupantes 70% do PIB, fronteira que alimenta o temor de um
crescimento em bola de neve. Três anos seguidos de déficits nominais
desequilibram qualquer economia.
Apesar de todos esses sinais de alerta, o governo Dilma se mantém
impassível diante da catástrofe anunciada. A presidente já admite —
grande avanço — encaminhar a reforma da Previdência à margem do fórum
criado para discutir o tema, onde o ministro Miguel Rossetto atua para
vetar qualquer mudança mais substantiva, como é preciso. Se escapar
desse jogo de cartas marcadas, o Planalto conquistará uma vitória, mas
tudo depende da proposta que fará ao Congresso. Nada é simples.
Fora as mudanças previdenciárias, o governo se mantém impassível,
fingindo que os mecanismos que engessam e indexam o Orçamento não
representam uma bomba com prazo para explodir e estilhaçar de vez as
contas públicas. A presidente Dilma prefere a fórmula de mais impostos —
como se a carga tributária já não houvesse chegado ao insano limite de
36% do PIB —, em que a volta da famigerada CPMF é a principal joia da
coroa.
O entendimento planaltino é que não há mais nada a cortar. Ora, ora.
Além do fato de que um Estado que gasta 40% do PIB sempre desperdiça uma
parcela desta enorme despesa, há a gravíssima questão do engessamento
dos gastos — abrange cerca de 90% do Orçamento — e da indexação de boa
parte das despesas ao salário mínimo e à inflação. Isso faz com que,
numa conjuntura em que a arrecadação tribuária federal cai 5,6%, devido a
uma recessão acima dos 3%, os gastos previdenciários e afins — o grosso
das despesas da União — sejam corrigidos em 10%. É óbvio que, assim,
não se obterá qualquer superávit. A dívida explodirá.
O que faz o governo? Prepara-se para lançar um sistema de metas fiscais
com o objetivo de escamotear os déficits verdadeiros. Trata-se da
reedição da “contabilidade criativa” de Guido Mantega e Arno Augustin,
bem como da própria presidente Dilma, por suposto. Não há mesmo como
manter a nota de risco do país.
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