por Rogério Gentile Folha de São Paulo
O PT reage aos questionamentos sobre os supostos privilégios concedidos a
Lula com o inconformismo e a prepotência de quem considera que o
ex-presidente, em razão dos serviços que prestou ao país, devesse ser
tratado como alguém acima do bem e do mal.
Invariavelmente, cita seu "legado de realizações", o "sucesso dos seus
programas sociais" e "a elevação do Brasil no cenário mundial" como uma
espécie de salvo-conduto para todo o resto. Afinal, quem fez tanto pelo
povo brasileiro só pode ser uma pessoa honrada. Será?
O discurso do "bom homem" é acrescido do da "vítima das elites",
perseguido a todo custo para que não possa voltar em 2018. "Nunca antes
um ex-presidente foi tão caluniado, difamado e injuriado", escreveu Rui
Falcão, o presidente do PT, esquecendo-se de que o próprio Lula já
chamou Sarney "de grande ladrão".
O fato é que, por mais que o PT tente construir uma narrativa política,
buscando desviar a atenção geral para assunto distinto do que está sendo
questionado, jamais houve indícios tão consistentes e constrangedores
quanto os que estão sendo apontados agora a respeito das condutas do
ex-presidente.
Com o agravante de que, diferentemente de outros episódios que
envolveram o PT, quando a complexidade das situações afetava o
entendimento, as suspeitas que recaem sobre Lula são de fácil
compreensão popular.
Há muitas dúvidas no ar: empreiteiras que trabalham para o governo
presentearam o ex-presidente com as obras e a mobília do sítio que
costuma frequentar? Por que a OAS gastou R$ 770 mil para reformar um
tríplex em Guarujá que estava sendo negociado com a família de Lula? Por
que, segundo testemunhas, a reforma atendia ao gosto da família se ela
não era a proprietária?
O que o seu filho fez para receber R$ 2,5 milhões de uma consultoria investigada?
Lula não está acima do bem e do mal. Se não fez nada de errado, pode muito bem se explicar à sociedade.
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