por Vinicius Torres Freire Folha de São Paulo
O crédito do governo do Brasil foi rebaixado de novo, ontem. O governo
do Brasil se rebaixou ontem a cabo eleitoral em uma disputa baixa do
PMDB, portanto à altura de quem em tese nos governa. Agachou-se assim
para cortar um rabicho da possibilidade de impeachment, rabicho que pode
voltar a crescer, porém.
Tratava-se de vencer a eleição para líder do PMDB na Câmara. De derrotar
o candidato de Eduardo Cunha e de apoiar o candidato do PMDB em tese
governista, aquele PMDB que no Rio de Janeiro pretende lançar um
candidato a prefeito que espancava a mulher.
Dilma Rousseff venceu a refrega ao preço de se tornar inimiga de metade
da bancada do PMDB, ontem derrotada. Em tese, precisaria desses votos
para catar dinheiros, a fim de aumentar impostos e votar suas reformas
informes que promete um dia enviar ao Congresso.
O governo interferiu abertamente na pendenga. Adquiriu apoios com a
promessa de dinheiro de emendas parlamentares. Demitiu por um dia aquela
figura que ocupa o Ministério da Saúde, que pôde assim voltar à Câmara e
votar na eleição do líder do PMDB. Essa figura volta logo ao cargo de
ministro, à chefia do ministério que diz derrotado pela "mosquita", como
diz a presidente.
O suposto delegado de Dilma Rousseff no PMDB, líder do partido, vai
indicar os nomes para a Comissão Especial do impeachment na Câmara e o
presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), um grande
diretor de trânsito das leis na Casa, lugar onde pode se decidir o
destino de Cunha. Foi para isso que o governo gastou seu, digamos,
prestígio.
Ainda mais avariado ou não pela derrota de ontem, Cunha continua, porém,
capaz de paralisar a Câmara. As comissões de trabalho não funcionam
enquanto o STF não responder às questões de Cunha sobre o rito do
impeachment. Na luta terminal pela sobrevivência, deve "tocar o terror"
na Câmara.
DESCRÉDITO
O governo se passa ao vexame de catar votos no chão peemedebista enquanto o país ainda baixa às profundas do fundo do poço.
A ruína é cada vez mais tida como irremediável por longos anos. É esse o
significado do "ponto negativo" extra que o governo recebeu ontem da
S&P. Não deve causar dano imediato: é um lembrete de que vamos penar
para sair do buraco.
O rebaixamento adicional do crédito brasileiro não é mais do que o
reconhecimento em cartório da impressão geral de que: 1) O ano extra de
recessão profunda agravará a pindaíba do governo; 2) A recuperação será
lenta; 3) Não há perspectiva de reviravolta, pois, além de um governo à
deriva, há convulsão político-partidária sem fim.
Assim, a perspectiva é de que a dívida pública continue a crescer sem limite. Daí o descrédito adicional.
A única reforma vagamente proposta pelo governo, a da Previdência, deve
estar rascunhada apenas em abril, se não for ainda mais retardada pela
oposição interna no próprio governo.
Antes disso, o PT promete lançar um programa econômico que pretende
desmoralizar mesmo as mínimas intenções reformistas, da boca para fora,
de Dilma Rousseff. Portanto, deve assim oferecer um álibi para que
outros partidos se abstenham de votar mudanças impopulares.
O Brasil baixa.
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