por Mariliz Pereira Jorge Folha de São Paulo
Há algumas semanas, minha faxineira se sentiu mal e eu a acompanhei ao
pronto-socorro do hospital Miguel Couto, no Rio. Esperamos juntas, num
lobby infestado de mosquitos, pelo atendimento.
Quando ela passou pela triagem, perguntei ao enfermeiro se não era perigoso. Perigosíssimo, disse.
Coincidência ou não, os mesmos mosquitos ou não, nesta quinta (28), a
faxineira me ligou para dizer que está com zika. E se eu estou
preocupada com ela e com duas amigas grávidas, imagine as delegações que
vão participar da Olimpíada e os milhares de turistas que se preparam
para visitar o país?
De que adianta a presidente Dilma Rousseff suspender a exigência de vistos –o
que é uma temeridade em tempos de terrorismo– para estimular a vinda de
mais gente, se o ministro da Saúde já disse que estamos perdendo a
batalha para o Aedes?
Vem, gente, vai ter zika, é a mensagem.
Na metade de janeiro, o Centro Americano de Controle de Prevenção de
Doenças (CDC), o Centro de Controle da União Europeia (ECDC) e a Agência
de Saúde Pública do Canadá emitiram comunicados sugerindo que mulheres
grávidas adiem suas viagens ao Brasil.
A imprensa internacional acordou para o assunto e não há um único dia em
que não tragam manchetes sobre o zika e a Olimpíada. Um tabloide
britânico chegou a dizer: não vá ao Rio, se você estiver grávida. Outro
provocou: o zika pode acabar com a Olimpíada?
Acabar é um exagero, mas o clima está azedo. Ontem o Comitê Olímpico
Neozelandês divulgou nota dizendo que vai apoiar todos os atletas e os
membros da comissão técnica que decidirem não participar dos Jogos por
causa da epidemia.
Já pensou se a moda pega?
Alguém pode pensar que não se trata de um risco às atletas de elite que
vêm competir no auge de sua forma física e que dificilmente estariam
grávidas na época das competições. Faz sentido.
Por outro lado, não há consenso de quanto tempo o vírus permanece no
organismo e se poderia ou não comprometer uma gravidez depois de as
atletas terem deixado o país.
Há de se levar em conta também as mulheres que fazem parte das comissões
técnicas das delegações. Elas correm risco, sim, se estiverem grávidas
ou se engravidarem no período em que estiverem no Brasil.
Outro problema, os atletas, todos, homens inclusive, chegarão com certa
antecedência para um período de adaptação e treinamento. Se forem
contaminados, podem apresentar sintomas da doença, que leva de três a 12
dias para se manifestar, no meio da competição. Vale pra zika, mas é
bom não esquecer de dengue e chikungunya, transmitidos pelo mesmo
mosquito.
A Prefeitura do Rio anunciou que a partir de abril as vistorias serão
intensificadas nas instalações olímpicas. E 30 dias antes vão determinar
se haverá necessidade do uso de inseticida, o chamado fumacê.
Abril? Trinta dias antes? Nas instalações olímpicas? Nos arredores? Mas e
agora? E o restante da cidade? E as regiões mais pobres, onde
infelizmente está o maior número de casos registrados?
Zica, com C mesmo, é uma gíria usada para falar de uma situação
desagradável, algo que deu errado. Quando olho para tudo isso, é difícil
não pensar que o Brasil não corre o menor risco de dar certo, que o
Brasil é isso mesmo, uma grande zica.
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