por Kim Kataguiri Folha de São Paulo
"Universidade pública, gratuita e de qualidade." Difícil não simpatizar
com esse charmoso mantra dos guerreiros da justiça social. O que os
monopolistas da virtude omitem é que a tal universidade só é pública e
gratuita para as elites. Os mais pobres participam dessa brincadeira
pagando a conta.
Em pleno século 21, o Brasil ainda tem, segundo o IBGE, quase 13 milhões
de analfabetos. Além disso, há anos ocupamos as piores posições nos
rankings mundiais de educação. Pouco estudo significa pouca
produtividade, e pouca produtividade é sinônimo de subdesenvolvimento.
A solução que habita o imaginário coletivo da população e o discurso das
esquerdas é simplista: mais investimento. Se o problema fosse apenas
dinheiro, os governos petistas teriam transformado o Brasil numa espécie
de Suíça da América Latina.
De 2004 a 2014, as despesas em educação passaram de R$ 24,5 bilhões para
R$ 94,2 bilhões. Nosso ensino, infelizmente, não apresentou salto
similar de qualidade.
O grande problema é que os últimos governos priorizaram a formação
superior em vez da básica, fazendo com que os alunos dos ciclos
fundamental e médio recebessem cerca de quatro vezes menos recursos. Num
país em que mais da metade da população não completou o segundo grau,
isso é o mesmo que tentar começar a construir uma casa pelo telhado.
Como a maioria de nossos impostos recai sobre o consumo, os mais pobres,
proporcionalmente, são os mais afetados, uma vez que gastam uma fatia
maior de seus rendimentos com produtos básicos como arroz e feijão.
Segundo estudo do Instituto Mercado Popular, a chance de alguém que
tenha uma renda familiar per capita menor do que R$ 250 entrar numa
universidade pública é praticamente nula, apenas 2%.
Por outro lado, os jovens com renda familiar per capita acima de R$ 20
mil têm 40% de chance. Na prática, nossas universidades públicas
transferem dinheiro dos mais pobres para os mais ricos.
Em outras palavras, as universidades públicas, que existem para garantir
um ensino superior de qualidade aos mais pobres, está, na verdade,
perpetuando os ciclos de pobreza e desigualdade.
Na USP, 6 em cada 10 alunos poderiam pagar mensalidade, caso os
critérios do ProUni fossem adotados. Em 2014, metade dos calouros
pertencia às famílias mais ricas do país.
E quem não pode pagar, como fica? Fica exatamente do mesmo jeito que
funciona hoje. Os mais pobres devem ter o direito de estudar
gratuitamente e, se necessário, também receber auxílios para moradia,
transporte e alimentação.
E o que seria feito com o dinheiro que o Ministério da Educação economizaria?
Investimento em ensino básico. Qualificação profissional para quem mais precisa.
Poderíamos até criar uma bolsa para que as famílias mais carentes
pudessem matricular seus filhos em escolas particulares -que, todos
sabem, são, em média, significativamente melhores do que as públicas.
O MBL (Movimento Brasil Livre) está coletando assinaturas para exigir
que o Congresso Nacional vote uma proposta que acabe com essa injustiça.
Chega de cair na velha demagogia da esquerda. Universidade gratuita não
é para quem quer, mas para quem precisa.
extraídaderota2014blogspot
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