e outras seis notas de Carlos Brickmann
Publicado na coluna de Carlos Brickmann
O PT, liderando a esquerda, quer se
vingar de Temer, derrubando-o. Os partidos adversários querem botar Lula
na cadeia e destruir o PT. Temer está disposto a ser impopular para
reformar o Brasil. E a Mula sem Cabeça expele fogo pelo nariz – que,
como os bens de certos políticos, não é dela.
Para acreditar numa dessas lendas,
melhor acreditar na da Mula sem Cabeça. Vai decepcionar-se menos. Os
fatos: o PT gostaria de se vingar de Temer, muita gente quer botar Lula
na cadeia, e Temer, que já é impopular mesmo, sabe que ou há reformas, e
rápido, ou o Brasil quebra. Quem perder essas brigas ficará com menos
poder, menos mordomias. É chato, mas tolerável. Já o adversário real,
Sergio Moro (e outros juízes, e promotores), põe em risco boa parte da
fortuna, todo o poder e a liberdade dos políticos da esquerda à direita.
Para o poderoso, como tolerar a cadeia?
Neste momento, os inimigos entre si
negociam como se amigos fossem, para neutralizar a Lava Jato e outras
iniciativas semelhantes. Há manobras subterrâneas, como a redução das
verbas, a redistribuição dos inquéritos; e há manobras abertas, de
denúncia de questões reais de chefes das ações anticorrupção –
procuradores e juízes com penduricalhos salariais que ganham acima do
teto constitucional, longas prisões sem julgamento, bons acordos, muito
bons, para delatores. Afinal, ninguém imaginaria que o Poder se
entregasse sem usar todos os recursos – até mesmo os legais.
A raiz da luta
Aliás, a guerra entre Gilmar Mendes (STF) e Janot faz parte da questão.
A lei anda!
Há um projeto de lei na Câmara, o PL
6726/2016, que está parado desde o último 15 de dezembro. Agora, um
deputado do PPS do Paraná, Rubens Bueno, decidiu cuidar do caso: está
coletando assinaturas para colocar o projeto em votação, em regime de
urgência. Uma coincidência: o PPS faz parte do bloco governista, e o PL
6726 fecha as brechas para salários superiores ao teto constitucional de
servidores públicos, atingindo grande número de magistrados e
promotores. Auxílio-moradia, auxílio-educação, vencimentos, tudo terá de
caber no teto constitucional de R$33.763,00, equivalente aos
vencimentos de ministros do Supremo. Só em São Paulo, 718 magistrados
recebem mais que o teto constitucional.
Inimigos amigos
E que ninguém estranhe a aliança de
inimigos tradicionais diante de um inimigo comum mais perigoso. Faz
parte do jogo. Quando a Alemanha nazista invadiu a União Soviética, o
dirigente britânico Winston Churchill se aliou formalmente ao líder
soviético Joseph Stalin, a quem sempre atacara com dureza. Quando lhe
cobraram a mudança de posição, Churchill explicou: “Se Hitler invadisse o
Inferno, eu faria pelo menos uma referência favorável ao Sr. Demônio na
Câmara dos Deputados”.
Por falar em benefícios
A petroquímica Braskem, joia do grupo
Odebrecht, estuda a mudança de sua sede para os Estados Unidos. Lá está
investindo US$ 2,2 bilhões numa nova unidade. Segundo o presidente da
empresa, Fernando Musa, “nos próximos cinco ou dez anos”, a Braskem vai
investir fora do Brasil. Aqui, pouca coisa, “sem um salto relevante”. A
Braskem nasceu poucos meses antes do início do Governo Lula, e se
transformou rapidamente numa gigante mundial. A Odebrecht tem 38,25% do
capital; a Petrobras, 32,15%. A Odebrecht, controladora da Braskem, fez
acordo de delação premiada para que seu presidente, Marcelo Odebrecht,
já condenado, pudesse cumprir a pena em casa, a partir do dia 19 de
dezembro.
A união dividida
Quanto à esquerda, foi-se o tempo em que
o PT comandava um bloco unido. Quando a Câmara apreciou a denúncia
contra o presidente Temer, o PCdoB, que queria derrubá-lo, sugeriu que
os deputados de esquerda não dessem número para a votação, na qual a
denúncia seria rejeitada; e Temer continuaria exposto ao desgaste da
luta para sobreviver. O PT compareceu, e Temer se livrou da crise – pelo
menos dessa crise. Outra divisão: o governador do Maranhão, Flávio
Dino, do PCdoB, candidato à reeleição, avisou os aliados de que Roseana
Sarney, PMDB, que andava meio sumida, voltou com força total à política
e, no comando do poderoso esquema Sarney, pode retornar ao poder. O PT
ainda não se mexeu (há até quem esteja com Roseana) para salvar Dino, o
aliado candidato à reeleição.
Fora do tom
E há um caso curioso, o de Agnaldo
Timóteo, que passou por vários partidos, entre eles o PDT, parte da
aliança de esquerda. Ele cometeu o imperdoável pecado de falar mal de
Leonel Brizola, fundador e ídolo do partido. Falar mal de Brizola, para o
PDT, é como, para o PT, falar mal de Lula: uma heresia. Timóteo está
entrando no PT. O PDT já resmunga.
extraídadecolunadeaugustonunesopiniaoveja
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