Ruy Castro
Folha
Também há cem anos, as feministas brasileiras lutavam pelo direito ao voto e ao trabalho, mas eram contra o divórcio. Achavam que, com o divórcio, os homens iriam abandonar os lares em massa e se juntar às suas sirigaitas. O fato é que, em 1932, elas tiveram o direito ao voto e ao trabalho, mas o divórcio, que também viria beneficiá-las, só chegou ao Brasil em 1977.
O CONTRÁRIO – Na França, foi o contrário. Intelectuais, como a romancista Colette, eram a favor do divórcio e do direito ao trabalho, mas contra o voto feminino –achavam que as mulheres atrasadas das províncias iriam votar em quem o padre mandasse. Com isso, as francesas só puderam votar em 1945.
Há 50 anos, as mulheres brasileiras lutavam pelo direito ao próprio corpo, e sair nuas em revistas era um ato libertário. Estrelas como Leila Diniz, Ítala Nandi e Betty Faria foram pioneiras e pagaram caro por isso – a sociedade lhes apontava o dedo acusatório. Hoje, a sociedade está pouco ligando se uma mulher fica pelada ou não, mas, para as próprias mulheres, sair nua em revistas é compactuar com uma cultura machista.
O que era tabu deixou de ser e vice-versa, e isso é normal. O problema é julgar o passado com os olhos de hoje, como se faz muito.
Tão sem sentido quanto julgar o presente com os olhos de ontem.
extraídadetribunadainternet
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