editorial do Estadão
O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) surgiu em julho de 1988
com a pretensão de representar ideologicamente os anseios da classe
média, afastando-se da demagogia de partidos trabalhistas como PT e PDT e
do fisiologismo explícito do PMDB, de cuja costela foi criado. Para
isso, contava com nomes de peso da política nacional, capazes de
oferecer compromissos firmes com a modernização do País, a começar pela
novidade de um partido que se propunha a ser uma agremiação de massa a
partir de um ideário homogêneo, distinguindo-se claramente do cipoal de
siglas que nada representam. Isto é, o eleitor do PSDB saberia
exatamente que projeto estaria elegendo quando votasse em algum
candidato do partido. Isso, o eleitor já não sabe mais.
O errático comportamento do PSDB ao longo da grave crise política,
econômica e moral que atinge o País vai muito além de sua anedótica
indecisão. O fato de que 21 dos 47 deputados do partido votaram a favor
da admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer na
Câmara, embora formalmente os tucanos sejam parte do governo, indica a
profundidade da confusão que reina no PSDB. E é evidente que essa
balbúrdia denota falta de rumo, deixando confusos os eleitores que
pensavam ser representados pelos tucanos.
Partidos surgem e desaparecem, e não será surpresa se o PSDB se
desfizer, consumido por suas dúvidas e hesitações acerca de como se
comportar diante da crise, ou melhor, para superar a crise. Quando duas
dezenas de deputados resolvem votar contra o presidente que seu partido
apoia, colocando em risco a estabilidade do governo que esse mesmo
partido integra desde o primeiro momento, é o caso de perguntar se esses
parlamentares estão realmente interessados na resolução da crise ou se
simplesmente estão respondendo a um cálculo eleitoreiro.
Alinhando-se aos irresponsáveis que desejam implodir o governo, a
pretexto de não parecerem transigentes com a corrupção no País, esses
tucanos na verdade renegam o espírito fundador de seu partido,
comprometido desde sempre com o reformismo, com a responsabilidade
fiscal e com a estabilidade econômica – as bandeiras do atual governo.
Assim, o PSDB parece ter se desfigurado a ponto de não mais se
diferenciar dos partidos que nada mais são do que um ajuntamento de
interesses particulares, tendo como horizonte apenas a eleição seguinte,
e não o futuro do País. Distancia-se de seu eleitor tradicional,
decepcionado com sua falta de rumo, passando a disputar votos entre
aqueles que se encantam com discursos demagógicos – clientela
tradicional dos partidos fisiológicos. Aquele PSDB moderno de três
décadas atrás é hoje, diria Drummond, apenas uma fotografia na parede.
O problema disso, para o País, é que a eleição presidencial do ano que
vem, conforme se afigura hoje, será disputada por aventureiros de
diversos matizes. Por essa razão, mais do que nunca, partidos fortes,
com alguma ossatura programática reconhecível, são imprescindíveis, para
não permitir que o governo venha a ser conduzido por um populista que,
sem nenhum tipo de compromisso político responsável, descarrile o País
de vez. O PSDB, pelo seu passado, deveria ser um desses partidos, mas
está a cada dia mais difícil reconhecer-lhe a tal ossatura, mais
parecida com uma gelatinosa cartilagem. A algaravia tucana neste momento
torna impossível identificar de que lado o partido realmente está.
O Brasil que trabalha e produz gostaria que a crise se resolvesse o mais
rápido possível – e isso significa, claro está, que o governo de Michel
Temer precisa de apoio sólido no Congresso para conduzir as reformas de
que o País tanto necessita. Além disso, urge que líderes políticos
responsáveis se esforcem para acabar com o clima de apocalipse instalado
no País, serenando ânimos e oferecendo uma perspectiva realista para os
próximos tempos, que serão igualmente duros. Tudo o que o Brasil não
precisa é de mais confusão – e o PSDB fará sua parte se se ativer ao seu
manifesto de fundação, no qual o partido convoca os brasileiros a
“lutar pelas mudanças com energia redobrada, através da via democrática e
não do populismo personalista”.
extraídaderota2014blogspot
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