Marianna Holanda e Elisa Clavery - O Estado de S.Paulo
Um grupo de engenheiros formados pelo Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA) lançou uma carta que nada tem a ver com a construção
de aeronaves. Intitulado Manifesto pelo Brasil, o texto expõe
preocupação com os rumos do País, “nestes tempos de instabilidade
política, corrupção, desemprego e violência”, e se dispõe a pensar em
novas saídas para a crise nacional. É a primeira vez que ex-estudantes
da instituição se posicionam sobre assuntos dessa natureza.
“Os alunos do ITA nunca participaram do processo político como um grupo,
mas a situação do País está muito complicada e estamos insatisfeitos.
Quisemos nos manifestar para romper o silêncio. É nesse sentido que saiu
o manifesto. É sobre princípios, sem tomar partidos”, disse um dos
organizadores do grupo, Pedro John Meinrath, de 80 anos, empresário
formado no ITA em 1959.
Assinado por 211 engenheiros formados na instituição entre 1956 e 2007, o
manifesto diz que o grupo pretende apresentar “algumas sugestões para
encaminhamento de mudanças que, no nosso entender, iniciarão um ciclo
virtuoso, propiciando recuperação econômica e mais qualidade de vida”.
Um dos signatários é Ozires Silva, que deixou o ITA em 1962 e fundou a
Embraer sete anos depois.
Formado na instituição em 1963, Gilberto Dib foi o “pai” do movimento
dos engenheiros aeronáuticos. “O documento mostra que estamos pensando
um País diferente. Nossa prioridade é propor mudanças na administração
do País”, afirmou Dib, hoje com 76 anos.
Na avaliação do grupo, o primeiro ponto é que é necessário dar mais
independência às administrações estaduais, descentralizando o poder do
governo federal. “Tanto o Poder Executivo quanto os demais Poderes ficam
excessivamente concentrados no nível federal, inflados e ineficientes,
comandando enormes orçamentos e sujeitos a manobras suscetíveis à
corrupção”, diz o manifesto.
O texto representa apenas a opinião dos signatários. “Nós somos egressos
do ITA, mas o manifesto nada tem a ver com o instituto. Ele nos
forneceu um ensino singular, e nos tornamos engenheiros de qualidade e
queremos contribuir”, afirmou Meinrath.
A Associação de Estudantes do ITA não subscreve o manifesto, mas não vê o
movimento com maus olhos. “Nós apoiamos, achamos positivo esse tipo de
iniciativa. Única ressalva que fiz com Gilberto (Dib)
foi para deixar claro que o manifesto não representa a opinião do ITA”,
disse o presidente da associação, Marcelo Dias Ferreira.
Um dos mais novos do grupo, da turma de 2007, Bernardo Ramos é um dos
que subscrevem o manifesto. Nesse grupo, os mais velhos são os mais
engajados. “Na nossa faculdade, a conduta e a educação são muito fortes,
e acho que o grupo surgiu do entendimento de que é preciso se
posicionar vendo a corrupção crescer e a educação piorar no País”, disse
o hoje professor de Matemática de 34 anos.
O grupo, que começou com apenas uma corrente de e-mail de 35 pessoas, quer tornar-se um think tank –
grupo que discute grandes questões. Com reunião presencial marcada para
setembro, eles pretendem formular diretrizes mais acertadas para os
próximos passos.
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