por Felippe Hermes - spotiniks
A
contratação de Neymar pelo francês Paris Saint-Germain caiu como uma
verdadeira bomba no mundo do futebol. Pelos valores envolvidos no
negócio, trata-se da mais cara transação já realizada na história desse
esporte. A pergunta gerada após dela, no entanto, você já deve ter visto
na sua redes social em algum momento: é justo que um desportista receba
tanto (cerca de 40 milhões de euros por ano pelo mesmo contrato)
enquanto há professores, profissionais importantes para o
desenvolvimento do país, recebendo tão pouco?
À primeira
vista, a pergunta pode até parecer ter um pouco de razão. Afinal, se em
última instância cabe à sociedade definir a importância de cada
trabalho, suas remunerações deveriam seguir uma lógica similar. Ou seja:
nós deveríamos nos basearmos na utilidade que cada trabalhador agrega a
sociedade, não é mesmo?
Definir
como se formam os salários é um desafio e tanto – e na maior parte das
vezes, algo consideravelmente subjetivo. Como a Autoridade de
Investimentos do Catar, no entanto, dona do PSG, sabe bem, o que Neymar
agrega ao clube, e ao próprio país que sediará a Copa do Mundo em 2022,
vai muito além do seu trabalho dentro de campo.
Assim como uma pequena elite dos profissionais de futebol, que no Brasil mal atinge 2% do totais de jogadores,
Neymar é hoje uma empresa que oferece entretenimento a milhões de
torcedores mundo afora – e visibilidade às marcas agregadas à sua
imagem. Em um mundo, afinal, onde a maior parte da população não saberia
apontar o Catar no mapa mundi, ligar-se a um dos jogadores mais
conhecidos do planeta parece fazer todo sentido para quem possui a
necessidade de divulgar uma Copa do Mundo.
Quando se
trata de salários, porém, as coisas mudam de figura. Como mostra o INEP,
órgão ligado ao Ministério da Educação, nossos professores ainda sofrem
uma imensa desigualdade salarial – mas entre eles próprios. Entre os 23
mil professores brasileiros a nível federal, a média salarial para 40
horas alcança R$ 7,7 mil, contra R$ 3,47 mil da média salarial das redes
de ensino estaduais. O problema nessa conta: professores federais são
menos de 1% do total.
Em universidades, a média pode chegar a R$ 16,2 mil, na UNB onde se paga melhor, ou R$ 13,2 mil, se considerarmos todas as universidades públicas do país. Na
prática, os 120 mil professores com mestrado ou doutorado no Brasil
ganham mais do que 98% dos jogadores de futebol brasileiros.
Por aqui, entre os 23 mil jogadores, apenas 620 ganham acima de R$ 12,4
mil. Não apenas isso: cerca de 82% destes mesmos jogadores ganham menos
de dois salários mínimos – portanto menos que a média dos professores de
ensino básico.
Como
mostram diversas cidades do país, no entanto como a capital gaúcha Porto
Alegre, que possui os maiores salários do setor (em média R$ 9,2 mil para
professores do ensino básico) e o 4º pior resultado brasileiro no
índice que mede o desenvolvimento da educação, mais dinheiro não
significa necessariamente melhor qualidade. Sem gestão, é como nadar
contra a maré.
E a
própria educação pode ser um bom exemplo disso. Há mais professores
milionários no estado de Ontário no Canadá do que milionários no Brasil
inteiro – isto porque estes professores são donos de um fundo de pensão
com quase US$ 130 bilhões em patrimônio, o que torna qualquer pessoa que
tenha contribuído por 25 anos, um milionário.
Ainda que
se trate de uma grande exceção, porém, Neymar não aparece tão bem na
foto quando comparado a alguns professores que, assim como ele, deixaram
de atender apenas alguns alunos e passaram a oferecer educação – e não
entretenimento – a milhões de pessoas. O resultado? Como você confere
abaixo, deixaram o craque brasileiro no chinelo.
1. Carlos Wizard
Tornar-se
um bilionário na área de educação não é das tarefas mais fáceis.
Imagine, no entanto, conseguir isso em um país tradicionalmente tão
pouco afeito a investir nisto quanto o Brasil.
Carlos
Wizard, ou Carlos Martins, seu verdadeiro nome, tornou-se um fenômeno ao
descobrir que era possível fazer o brasileiro compreender o poder de
estudar inglês nos dias de hoje.
Depois de
viajar para os Estados Unidos com 100 dólares no bolso, com o intuito de
aprender o idioma local, Carlos retornou ao Brasil e começou a dar
aulas na própria casa, com um foco até então ignorado pelas grandes
redes: conversação.
Foi
ajudando as pessoas a ganharem prática na conversação em inglês que
abriu sua primeira escola de idiomas – a Wizard, com cerca de 100
alunos. E depois dela foram inúmeras outras, a maior parte em um modelo
de franquias.
O número 100 acabou
se tornando emblemático, não apenas por marcar a quantidade de alunos
que sua primeira escola contava, como também o número de milionários que
a Wizard criou ao longo dos anos ao permitir que inúmeros outros
professores e empreendedores utilizassem seu método para educar jovens e
adultos.
Em 2013,
Carlos vendeu sua rede de ensino ao grupo Person por R$ 2 bilhões, o
suficiente para contar com Neymar por quase 12 anos, incluindo aí a
multa rescisória com o Barcelona de R$ 880 milhões.
2. Flávio Augusto
Dono de um
clube de futebol para chamar de seu hoje, o Orlando City, Flávio
Augusto teve uma origem improvável para os padrões brasileiros – saiu do
subúrbio do Rio para ensinar brasileiros já adultos a falarem inglês
fluente em 18 meses, prazo muito mais curto do que os tradicionais 4
anos que um adolescente leva em um curso padrão.
Desenvolver
um método revolucionário de ensino, no entanto, é tarefa pequena perto
do sufoco que é empreender no Brasil. Sua primeira escola, em 1995,
contou com o investimento de R$ 20 mil do seu cheque especial, com juros nada camaradas de 12% ao mês.
Em 2013,
ao vender sua rede de ensino, a Wise Up, para a Abril, Flávio entrou pra
lista dos bilionários brasileiros. Além da compra do seu próprio time
de futebol, no entanto, a paixão pelas salas de aula o fez retornar –
desta vez em um outro ramo do ensino: o empreendedorismo.
Flávio criou em 2015 a meusucesso.com,
onde pode, enfim, ensinar além da perseverança necessária pra se atuar
como empreendedor no Brasil, dicas sobre iniciar seu próprio negócio.
Nos 18
anos entre a fundação e a venda da Wise up, foram mais de meio milhão de
alunos formados – pouco diante dos milhões de torcedores do PSG, mas
suficiente para acumular uma fortuna capaz de tirar o craque do clube
espanhol.
3. Adi Shamir
Graduado
em matemática pela Universidade de Tel Aviv, Shamir ao contrário da
maior parte dos professores que estamos acostumados, levou seu foco para
a área de pesquisa, onde aliando-se à sua formação na área de
computação, tornou-se célebre por desenvolver algoritmos e criptografia.
Graças às
suas pesquisas e desenvolvimentos, como o RSA, Shamir recebeu inúmeros
prêmios, como a medalha Turing, em homenagem ao criptografista inglês, Alan Turing, que desvendou a máquina Enigma dos alemães, ajudando os aliados a preverem ataques e vencerem a Segunda Guerra Mundial.
Suas
contribuições, no entanto, se estendem à área de ensino – além da
pesquisa onde se consagrou, Shamir é responsável por escrever inúmeros
livros de matemática utilizados para ensinar adolescentes nas High
Schools americanas. Adi é o que se pode chamar de o professor do seu
professor.
Sua fortuna é avaliada em 2.3 bilhões de dólares.
4. David Cheriton
Sergey
Brin e Larry Page provavelmente são nomes familiares para você, mas se
não estiver ligando o nome a pessoa, ou mais precisamente, o nome ao
invento, ambos são ex-estudantes de Stanford e criadores do Google.
Em comum, Sergey e Larry possuem um bacharelado em computação e um mesmo professor: David Cheriton.
Ainda
hoje, o professor dos célebres fundadores do Google trabalha com seus
estudantes na universidade americana para desenvolver sistemas
transacionais de memória.
Graças à
proximidade com alunos promissores, o então professor tornou-se o
primeiro a assinar um cheque para ajudar aquela que se tornaria a
segunda companhia mais valiosa do mundo, a Alphabet (dona do Google).
Com um cheque de US$ 100 mil, e uma mentoria na área, Cheriton ajudou seus estudantes a mudar definitivamente a forma como você enxerga a internet hoje.
Seu
patrimônio atual, estimado em US$ 3,4 bilhões, deve-se não apenas a
isto, mas a diversos outros empreendimentos, ao menos vinte conhecidos,
ligados a apostas junto a alunos que tiveram com ele não somente aulas,
mas conselhos para criar empresas que mudassem a ciência e tecnologia.
Como resultado de empreendimentos tão bem sucedidos, David é hoje um dos maiores doadores do ensino privado americano.
5. Henry Samueli
Filho de
judeus poloneses sobreviventes do holocausto, Henry Samueli tornou-se
PhD em engenharia elétrica pela UCLA, na California. E por quase 15 anos
deu aula na universidade, até que em 1991, junto de outro aluno,
decidiu aplicar US$ 5 mil para fundar a Broadcom, companhia que cresceria e se tornaria uma das mais relevantes fabricantes de semi-condutores dos Estados Unidos.
Apenas em
1998, quando sua empresa se tornou pública – e Samueli já completava
mais de duas décadas como professor – tomou a decisão de deixar as salas
de aula para dedicar-se à vida de empresário. Ainda assim, seu nome
ainda consta no hall de professores da prestigiada UCLA, onde é hoje um
dos maiores contribuidores com doações na casa dos milhões de dólares ao
ano.
Samueli,
no entanto, ainda ministra aulas eventuais na universidade, como
convidado, enquanto não está dividindo seu tempo entre gerir a própria
empresa ou o Clube de Hockey do qual tornou-se dono (e certamente mais
ricos que todos os jogadores do time canadense).
6. Altamiro Galindo
Fundada em 1988 no interior paulista, a Iuni é
o primeiro grande salto do então professor, que tornou-se reitor,
Altamiro Galindo. Sua atuação à frente da universidade tornou-se um
modelo capaz de fazer o fundo americano Advent se curvar à gestão
promovida pela família e colocá-la a frente de toda sua operação no
Brasil, que atende pelo nome de Kroton. Mesmo com 6,3% das
ações da nova empresa, seu filho Rodrigo Galindo, assumiu o comando da
empresa e a levou, por meio de uma série de fusões e aquisições, a se
tornar a maior empresa de educação do mundo.
Há hoje na Kroton, 1.015 milhão de alunos – número próximo dos 1,5 milhão de brasileiros estudando em universidades públicas.
Com um
valor de mercado de R$ 23,99 bilhões, a Kroton é atualmente uma das
empresas do setor que mais cresce e se diversifica para áreas como
ensino básico.
Altamiro
Galindo segue no conselho da empresa, e sua família ainda mantém 5% da
companhia, suficiente para comprar o passe de Neymar.
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