MIRANDA SÁ
“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (Rosa Luxemburgo)
Um
presente sempre lembrado nos aniversários de pré-adolescentes, filhos e
netos dos meus amigos, o livro “A Revolução dos Bichos”, de George
Orwell, é uma referência na minha estante. Li-o pela primeira vez em
1948, na edição portuguesa emprestada por um colega de colégio.
Só
vim a possuir um exemplar 32 anos depois, o lançamento no Brasil em
1980 da Editora Globo S/A, de Porto Alegre. A “Revolução dos Bichos” é
uma fábula moderna, digna de constar do panteão que homenageia Esopo e
Fedro, os azes de ouro do gênero. Não canso de relê-la.
A
fábula (do latim fabula, história, regras, lição) é uma narrativa que
surgiu no Oriente e levada à Grécia no século VI a.C. através de um
escravo chamado Esopo, improvisador de versos, tendo como personagens
animais que dão lições de moral aos homens.
Os
textos, escritos ou orais, são geralmente curtos. Mais tarde,
renasceram através do francês La Fontaine, o escocês Robert Louis
Stevenson, o russo Liev Tolstói, os portugueses Sá de Miranda e Bocage, e
o nosso excepcional representante, o brasileiro Monteiro Lobato.
Na
Revolução dos Bichos, Orwell abordou com muita ousadia o tema da
igualdade, em 1945, no pós-guerra, quando o poder soviético atraía a
curiosidade e conquistava a simpatia de muitos. E veio justamente do
sistema stalinista, ditatorial e policialesco, traidor dos princípios da
revolução de 1917, o estímulo criador para desmascará-lo.
A
palavra “igual”, vem do latim aequalis. É adjetivo de dois gêneros
designando aquilo que tem as mesmas características e o mesmo valor,
seja legal, matemático ou moral. Numa Democracia, é, por princípio o
direito de um povo. A Igualdade no Brasil é prevista no artigo 5º da
Constituição Federal, chamado de “Princípio da Igualdade” e que diz
serem todos iguais perante a lei.
É
evidente que o texto constitucional não se trata de igualdade da
matemática e da natureza, mas da igualdade política e social. Que se
torna difícil de garantir por que relaciona os indivíduos comuns e os
ocupantes do poder.
Desgraçadamente
a sociedade é regida por leis que sempre têm brechas capazes de
privilegiar alguns, por que são feitas por eles próprios. Esses “alguns”
são aqueles que Orwell mostrou na sua “Revolução dos Bichos”, os porcos
que lideraram a revolução sob a égide de sete mandamentos entre os
quais “Todos os animais são Iguais”.
Comandada
por um porco ditador, a burocracia política e administrativa da Granja
dos Bichos foi-se acomodando, se corrompendo, e traindo todo o ideário
da revolução, com os porcos se humanizando, abolindo os mandamentos e
substituindo-os por uma só divisa: “Todos animais são iguais, mas alguns
animais são mais iguais do que os outros”…
Se
ficarmos desatentos, tropeçamos nas valas do “todos somos iguais”.
Começa com os possuidores do “foro privilegiado”, mais iguais dos que
nós. Temos uma pá deles no Congresso Nacional com processos engavetados
no Supremo Tribunal Federal; e não aparece um meritíssimo para julgá-los
cumprindo a Constituição.
Nos
tríplex dos andares de cima do edifício social há pessoas criminosas e
sem ”foro privilegiado”, que também são mais iguais do que as outras… O
julgamento deles dura o tempo suficiente para a prescrição dos crimes.
Há uma enorme fila de espera para se safar como FHC e Sarney o fizeram…
Lula está entre eles.
Na
moral da fábula orweliana vê-se que a igualdade é associada à
não-discriminação; e vem daí a dificuldade de implantá-la entre os
humanos. Papai Balzac já dizia: “A igualdade pode ser um direito, mas
não há poder sobre a Terra capaz de a tornar um fato”.
EXTRAÍDADETRIBUNADAIMPRENSA
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