José Nêumanne: Publicado no Blog do Nêumanne
A dissidência “ideológica” e “ética” que
se apartou do PMDB do doutor Ulysses a pretexto de se livrar da
companhia imoral de Orestes Quércia e seus bate-paus é escrava de vícios
aparentemente novos. Mas estes não passam de posturas entranhadas em
seu DNA desde as origens até os dias atuais, período em que ocupa o
segundo mais poderoso e rentável cargo público do País, a desgovernança
do Estado de São Paulo, dividindo apenas por um curto período o mando
com aliados do PFL, que virou DEM. Durante esse tempo, como os antigos
amigos do PT, que viraram desafetos, locupletaram-se (será que não
mais?) pra valer.
O Brasil só viria a conhecer a face
gatuna dos coxinhas tucanos quando apareceu o áudio entregue por um
delator a federais e procuradores em que um antigo presidente do
partido, o pernambucano Sérgio Guerra, faz um acerto de R$ 10 milhões
para atender ao pagador da propina, que não queria ser convocado a depor
numa comissão parlamentar de inquérito (CPI) qualquer do Congresso
Nacional. Mas Sérgio Guerra estava morto quando foi denunciado. E tudo
foi sepultado com ele.
Processos contra tucanos, não se sabe
por que tipo de milagre, não costumam prosperar nas altas cortes de
(in)Justiça. A História mostra que o mensalão, no qual o PT se esbaldou,
foi inventado na tentativa vã de reeleger governador Eduardo Azeredo na
campanha em que foi derrotado pelo ex-presidente Itamar Franco. Até o
chamado operador – Marcos Valério – era o mesmo que fez o serviço sujo
de Lula, Zé Dirceu et caterva. Mas até hoje o filho do prócer
pessedista Renato Azeredo, grande amigo de Tancredo Neves, espera
julgamento na segunda instância, não tendo ainda, portanto, de cumprir a
pena de mais de 20 anos a que está condenado.
Aecinho, filho de Aécio Cunha, a cujo
sobrenome preferiu, por motivos mais que óbvios, o do avô, durante algum
tempo depois de derrotado por estreitíssima margem de votos pela
petista Dilma Rousseff, fez o papel de mocinho no filme de gangsteres da
política nacional.
Esse protagonismo durou pouco. O
candidato do PSDB na eleição presidencial de 2014 nunca assumiu o papel
de líder da banda do Brasil que se considerava sã só porque o lado
oposto tinha sido flagrado em atos de absoluta podridão. Senador em
metade de mandato, se entregou ao ócio do dolce far niente e
deixou essas querelas de baixo clero para companheiros de plumagem menos
vistosa. De início, bestalhões, como o autor deste texto, imaginaram
que a oposição fajuta que ele liderava era apenas estúpida e indolente.
Logo, contudo, a devassa da Operação Lava Jato foi demonstrando, pouco a
pouco, que o PSDB e o PT não eram apenas maniva da mesma raiz, mas
também farinha do mesmo saco. A temporada de Aecinho no governo das
Alterosas não passou em branco em matéria de gatunagem, segundo
revelaram figurões da empreita pesada que, depois, se tornaram delatores
de alto coturno. A botija da fortuna era a hidrelétrica Furnas, de
propriedade do governo mineiro, que o neto de Tancredo ocupou ao longo
de dois mandatos.
No entanto, logo em seguida, antes mesmo
de Joesley Batista, da JBS, revelar os volumosos conhecimentos de baixo
calão do moço fino das Gerais, além de seus instintos assassinos
(ameaçou matar o primo Fred, numa gravação do alcoviteiro de Viçosa),
manifestou-se nele especial apetite por doações eleitorais falsamente
legais ou egressas direto do propinoduto do bamba do abate. Ou seja,
seus eleitores de 2014, que se enojavam com as revelações da rapinagem
dos petistas para eleger a adversária dele, terminaram descobrindo que
tinham mais era que se envergonhar da própria opção eleitoral. A eleição
de Aecinho também funcionava com propina na veia. Ou inalada.
O processo no Tribunal Superior
Eleitoral (PSDB), arquivado por excesso de provas, que o PSDB moveu
contra a aliança PT-PMDB naquela maldita eleição perdida revelou uma
história de trancoso na qual os coxinhas continham teor de putrefação
moral e cívica em doses similares ao usado pelos adversários soit-disants
socialistas. E os ex-orgulhosos do próprio voto, se não dispunham de
bandidos favoritos, tiveram de se envergonhar da própria escolha por um
candidato também sem moral.
Na revelação de que aquela maçã não
tinha banda sã, os coxinhas descobriram que, de fato, o “PS do B”, sigla
presidida pelo filho xará de Aécio Cunha havia processado Dilma &
Temer só pra “sacanear”. Não dá, então, para se contrariar com a fissão
dos coxinhas entre governistas, que mantiveram o mandato incólume de
Temer, sob liderança do preguiçoso Aecinho, e rebeldes, que seguiram
Tasso Jereissati, movimentando-se rapidamente rumo a uma coligação de
esquerda que pode lançar seu antigo protegé Ciro Gomes, senhor do
feudo republicano de Sobral, no caso do candidato Lulinha da Silva
virar ficha-suja. O bom filho também volta à casa do mau irmão. E o “PS
do B” divide-se, neste mês do desgosto, entre os que ainda mamam e os
que reservam teta para mamar em 2019.
Ciro é o novo Temer da esquerda. E esta
encenou a guerra contra o presidente na Câmara, mas, na verdade,
comemorou a permanência do mordomo de filme de terror no palácio
assombrado do Planalto, pois sabe que é melhor um adversário
desmoralizado e impopular no papel de zumbi do que o eterno retorno do
“fora qualquer um”. O PT e seus asseclas, que votaram em Temer, porque
votaram em Dilma, não saíram do lugar em que já estavam. Mas não perdem
por esperar, assim como os coxinhas. Pelo que indicam a direção dos
ventos e o movimento das marés, o eleitor pode enterrar em 2018 essa
encenação no lixão da História, que é o lugar que todos merecem. O “PS
do B”, que é o PT metido a fino, e o PT, que sempre preferiu vinhos de
boa cepa à cachaça de cabeça, candidatam-se neste momento a um féretro
comum, sendo um o coveiro do outro e o outro, o cadáver de um.
EXTRAÍDADEBLOGDONEUMANNE
0 comments:
Postar um comentário