por Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo.
Elas têm consistência, como mostra a revista Época. São nomes, dados, contas, datas e operadores de uma rede de corrupção que humilha a Odebrecht. Envolvem Temer, os ex-presidentes Lula e Dilma, ministros como Kassab e Bruno Araújo, ex-ministros como Palocci e Mantega, senadores como José Serra e Eunício Oliveira, e presidentes e deputados da maioria dos partidos.
A revelação das provas da JBS neste momento foi pragmática: a reabertura do Judiciário reabre também a pressão, os debates e as articulações para a revisão do acordo de delação premiada dos irmãos Batista, que corromperam meio mundo e agora explodem o mundo todo, mas saíram ilesos, sem um único dia, ao menos, com uma tornozeleirazinha.
Para manter a mamata, é fundamental robustecer as delações com provas concretas e escapar das brechas. Tanto os advogados da JBS quanto os que querem rever o acordo se debruçam sobre o mesmo material: as gravações dos quatro dias de julgamento em que o Supremo decidiu manter o caso JBS com o relator da Lava Jato, Edson Fachin, e concluiu, sem concluir, quando acordos de delação podem ser anulados e revistos. Acusação e defesa acham a decisão muito confusa.
Joesley e Wesley enfrentam quatro ameaças de perder as benesses da sua delação: 1) se, ao contrário do que concluiu a PGR, ficar provado que eram “líderes de organização criminosa”; 2) se o relatório da Polícia Federal sobre a nulidade da delação de Sérgio Machado produzir efeitos; 3) se comprovado que eles usaram “inside information” para lucrar milhões de dólares com o vazamento da delação; 4) se omitirem informações para proteger Lula e o amigão Palocci.
Os irmãos já preparam a contraofensiva. A primeira foi jogar essa história de quadrilha no colo de Temer, agora veio a apresentação das provas que jorram neste fim de semana, depois é alegar que Sérgio Machado, diferentemente deles, não provou nada. E, enfim, que seria “burrice” manipular dólar e Bolsa no dia da delação. Mera “coincidência”.
Quanto a Lula e Palocci: foi com eles, e à custa do nosso BNDES, que a JBS deixou de ser uma grande empresa nacional para virar uma gigante internacional, mas ele argumenta que “quem tinha Mantega no BNDES não precisava de Palocci”. E o Lula? Se Joesley jogou todo o peso em Temer, mas premeditadamente só passou de raspão por Lula, seu maior benfeitor, isso pode ser caracterizado como “má-fé” e justificar quebra do acordo.
Os irmãos da JBS, portanto, ainda têm muito chão pela frente, mas suas provas na Épocadeixam uma pergunta no ar: como os deputados citados nas suas delações e planilhas podem absolver ou, principalmente, condenar Temer? “Réu” e jurados estão no mesmo balaio. Aliás, até agora, não há um único processo no Congresso contra citados na Odebrecht ou na JBS.
Temer tem votos para salvar o pescoço, mas pode não ter para abrir a votação, que exige 342 deputados. Parte da oposição quer se ausentar, para deixá-lo “sangrando”, ou “com a barriga aberta”, como diz o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. E parte da situação até gosta da ideia, para não se expor ao vivo votando a favor de um presidente com míseros 5% de popularidade. Quanto ao País “sangrando” ou “com a barriga aberta”? Bem, essa é uma outra história.
extraídadepuggina.org
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