editorial da Folha de São Paulo
Dados o número e as dimensões dos desvios descobertos na Petrobras, não
deveria causar estranheza que um ex-presidente da empresa esteja na mira
das autoridades.
Entretanto a prisão de Aldemir Bendine,
que comandou a petroleira de fevereiro de 2015 a maio de 2016,
relaciona-se a acusação de pedido de propina iniciado nos tempos em que
estava à frente do Banco do Brasil (de 2009 a 2015).
O empresário Marcelo Odebrecht relatou, em delação premiada, que Bendine
lhe cobrara, por meio de emissários, R$ 17 milhões para facilitar a
renegociação de dívidas com a instituição financeira federal. De acordo
com a versão, o pleito só foi parcialmente atendido (em R$ 3 milhões)
quando o executivo ascendeu à Petrobras.
Faça-se a ressalva de que testemunhos do gênero não constituem prova, e a
própria prisão temporária suscita dúvidas —entre suas justificativas
está uma alegada possibilidade de fuga por meio de uma viagem para
Portugal; a defesa apresentou nesta mesma quinta-feira (27) o bilhete de
volta.
Fato é que se joga nova luz sobre um personagem importante e controverso
das administrações petistas, tido como homem de confiança dos
ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
No BB, Bendine participou da política de forte expansão do crédito dos
bancos públicos, com a qual se procurava enfrentar os efeitos da crise
internacional.
Chegou à Petrobras quando Dilma tentava salvar a empresa da bancarrota sem retirá-la do jugo do Palácio do Planalto.
Entre uma coisa e outra, envolveu-se em episódios constrangedores como a
compra de um imóvel em dinheiro vivo –mais espantosa em se tratando, na
época, do presidente do maior banco do país.
Os esqueletos nos armários das estatais, de todo modo, parecem inesgotáveis e suprapartidários. Há três semanas, por exemplo, a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima avivou as suspeitas que pairam sobre a atuação do PMDB na Caixa Econômica Federal.
Em maio, o BNDES foi alvo de uma operação da Polícia Federal que
investiga o apoio da instituição federal de fomento à JBS, dos irmãos
Wesley e Joesley Batista.
Este último, em sua ofensiva delatora, gravou em março conversa em que
prometeu favores ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) em troca da indicação
de Bendine —ele mesmo— para um posto na Vale —empresa privatizada há 20
anos.
Ainda que tudo esteja em fase de apuração, são abundantes os vestígios
do patrimonialismo, ou da promiscuidade entre interesses políticos e
empresariais.
A modernização do capitalismo brasileiro passa, sim, pela
profissionalização e venda de estatais. Superar vícios da intervenção
espúria do Estado na economia, no entanto, é processo mais complexo.
extraidaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário