Folha de São Paulo Maria Alice Setubal e
Desde março, diferentes categorias estão mobilizadas de forma contrária à
proposta de reforma da Previdência em análise no Congresso. Este
movimento culminou na greve geral do último dia 28. Além disso,
anualmente vemos professores reivindicarem também outras pautas, como
uma remuneração justa e o cumprimento do piso do magistério, que são de
responsabilidade dos Estados e municípios.
Infelizmente, tornou-se recorrente em todo o país paralisações de
professores. Por um lado, as greves trazem consequências perversas para o
bom funcionamento das escolas brasileiras e, principalmente, para a
garantia dos estudantes ao direito à educação de qualidade. Por outro, é
inegável que as reivindicações dos docentes são legítimas.
Vale lembrar ainda que os países que conseguiram dar um salto de
qualidade nas políticas educacionais e atrair os melhores profissionais
para atuarem nas escolas o fizeram valorizando seus educadores. Ou seja,
investindo em boa remuneração, em planos de carreira atraentes e,
principalmente, na formação inicial e continuada.
O professor é, sem dúvida, um dos sujeitos centrais para a garantia de
uma educação de qualidade. Essa é uma constatação praticamente unânime
de estudos nacionais e internacionais.
Há uma ampla bibliografia e análises de especialistas de diferentes
setores que corroboram a centralidade do ensino no mundo atual. Trata-se
de passo essencial para o desenvolvimento do país, para a formação
cidadã, para o fortalecimento da democracia e o combate à corrupção,
sobretudo neste momento em que o país acompanha inúmeros escândalos e
denúncias.
Contudo, essa valorização está longe de ser uma realidade no país.
Segundo o último levantamento da CNTE (Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Educação), somente 15 dos 26 Estados e do Distrito
Federal cumprem integralmente a Lei do Piso do Magistério, de 2008, que
neste ano é de apenas R$ 2.298,80 para uma jornada de 40 horas semanais.
Também estamos distante de cumprir as metas 15 e 17 do Plano Nacional de
Educação -determinam, respectivamente, que todos os professores tenham
formação na área em que lecionam e tenham rendimento médio igual ao de
outros profissionais com a mesma titulação.
Num momento de grave crise econômica e política, em que ajustes são
necessários, é preciso cuidado para que não haja aprofundamento das
desigualdades que afligem, sobretudo, as camadas mais vulneráveis da
sociedade.
A possibilidade de novos cortes no orçamento da União, anunciada
recentemente pela imprensa, pode agravar ainda mais esse quadro.
A sociedade precisa estar atenta para que não haja mais retrocessos,
como o que ocorreu no final de 2016 com aprovação da emenda
constitucional 95/2016, que limita os gastos públicos em áreas sociais.
Mudanças estruturais nos rumos do país deveriam ser amplamente
discutidas com a sociedade, na perspectiva da construção de um projeto
de nação mais justo e sustentável.
O aperfeiçoamento e a proposição de novas políticas públicas devem ser
embasados em estudos e evidências científicas, para que suas implicações
não tragam retrocessos em áreas prioritárias como educação, saúde e a
seguridade social.
extraídaderota2014blogspot
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