editorial de O Globo
Era
inverossímil que Dilma Rousseff não soubesse do saque que diretores da
Petrobras fizeram durante tanto tempo na estatal, para que parte do
dinheiro financiasse o caixa 2 de campanhas eleitorais, principalmente
do seu partido, o PT, incluindo as dela própria à Presidência da
República.
Tanto quanto isso, sabe-se hoje, era dinheiro também para elevar o
padrão de vida de dirigentes partidários e, em última análise, sustentar
o projeto de poder lulopetista, para se perpetuar no Planalto. Aspectos
que já ficaram visíveis nas investigações sobre o mensalão, um esquema
muito menor que o petrolão. Na verdade, começaram a ser montados de
forma paralela.
A imagem cultivada por Dilma de distanciamento do petrolão nunca se
firmou, e acaba de ser demolida pelas delações do casal de marqueteiros,
João Santana e Mônica Moura, o preferido do PT pelo histórico de
vitórias: Lula em 2006 e com a própria Dilma.
Nem mesmo a ideia de uma pessoa de inabalável honestidade fica de pé com
o relato de Mônica sobre gastos com a ex-presidente feitos também em
período não eleitoral. Com o cabeleireiro Celso Kamura, teriam sido R$
90 mil. Ao todo, R$ 170 mil em dinheiro do petrolão, surrupiado de obras
da estatal, por meio do superfaturamento de contratos.
Os relatos de Mônica Moura confirmam o que se suspeitava: Dilma tinha
absoluto conhecimento de tudo o que se passava dentro da Petrobras — a
origem do dinheiro e o destino, também ilegal, dele.
Não foi honesto, por exemplo, aceitar a proposta da publicitária de
criar e-mail com nome fictício para as duas trocarem informações
sigilosas usando um artifício criado por redes de terrorismo (deixar
textos em “rascunho” para outro acessar).
Um dos resultados é que, assim, Dilma deixou um rastro eletrônico que
pode complicar-lhe a vida. Não sem motivos, Mônica Moura, para usar como
prova, imprimiu uma dessas mensagens e a autenticou devidamente em
cartório.
Dilma assumira a presidência do Conselho Administrativo da Petrobras, no
início do primeiro governo Lula, na condição de ministra de Minas e
Energia. Por isso, não parecia verossímil que ela nada soubesse.
Também não foi honesto usar informações espionadas na Lava-Jato — que
lhe foram transmitidas pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo —
para avisar ao casal que ele seria preso.
Dilma demonstra, ainda, conhecer o esquema do petrolão, ao dizer para a
publicitária procurar Antonio Palocci — o “Italiano”, onipresente em
negociações em torno de grandes cifras para o caixa 2 lulopetista — e
cobrar dele pagamento atrasado aos marqueteiros, pelo trabalho na
campanha frustrada do petista Patrus Ananias à prefeitura de Belo
Horizonte, em 2012.
As delações de Mônica reforçam o ex-diretor da estatal Nestor Cerveró,
quando ele garante que Dilma também sabia da escandalosa compra da
refinaria americana de Pasadena. A passagem de Dilma pela estatal faz
todo sentido.
extraídaderota2014blogspot
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