por Carlos Alberto Di Franco O Estado de São Paulo
O marketing político, azeitado com dinheiro roubado do povo, produziu
uma fraude gigantesca: Lula da Silva. Não se trata de uma frase de
efeito ou de uma reação emocional. É a conclusão inescapável da farta
documentação produzida pela Operação Lava Jato.
Lula poderia ter sido uma bela história. Não foi. Definitivamente. Como
lembrou editorial do Estado, Lula entra nessa história sórdida “na
condição de poderoso, e não de fraco e oprimido perseguido pelos
malvados inimigos do povo. Lula está com a polícia em seus calcanhares
não porque é um nordestino que nasceu na pobreza e subiu na vida. Lula
está nessa triste situação porque deixou que o poder lhe subisse à
cabeça, deslumbrou-se com a veneração da massa, com o protagonismo
político e com a vassalagem interessada de políticos medíocres,
intelectuais ingênuos ou vaidosos e, principalmente, com a bajulação de
homens de negócio gananciosos”.
Seu depoimento ao juiz Sergio Moro foi a pá de cal na sua biografia.
Acusado de ser o dono oculto do triplex no Guarujá, um presente da OAS
pelos serviços prestados à empreiteira, Lula teve a oportunidade de se
defender. Não conseguiu convencer nem uma inocente freira de clausura.
Enrolou-se e acabou prisioneiro do cipoal das suas mentiras.
A Moro disse que não sabia da reforma do apartamento e por isso mesmo
não tratou da obra com Léo Pinheiro. Já em março de 2016, quando foi
alvo de condução coercitiva, admitiu em depoimento à Polícia Federal ter
tratado de um projeto para o apartamento. “Quando eu fui a primeira
vez, disse ao Léo que o prédio era inadequado, porque um triplex de 215
metros é um triplex Minha Casa, Minha Vida, era pequeno. Eu falei: Léo, é
inadequado para um velho como eu. O Léo falou: ‘Eu vou tentar um
projeto pra cá’”, contou Lula ao depor. Naquela mesma ocasião deu a
entender que dona Marisa visitara o apartamento para verificar se as
recomendações feitas pelo casal haviam sido seguidas pela empreiteira.
Agora, ao tentar afastar-se de qualquer responsabilidade, aponta firme o
dedo para sua mulher. Segundo Lula, Marisa foi quem se interessou pelo
triplex, não ele. E se interessou para fazer um investimento. Ele nada
sabia. Pobre dona Marisa. É de lascar, amigo leitor.
Mas a ignorância inocente de Lula é ampla, geral e irrestrita.
Questionado pelo juiz Sergio Moro se em algum momento, como líder
inconteste do PT, pediu ao partido que investigasse o envolvimento de
companheiros no esquema de corrupção detalhado posteriormente pela
delação de executivos das empreiteiras e da Petrobrás, Lula disse que em
2014, quando vieram à tona as denúncias da Lava Jato, ele era apenas um
ex-presidente, comparável a um “vaso chinês”. Moro insistiu em que,
mesmo na condição de ex-presidente, o depoente tinha evidente influência
no partido, ao que Lula respondeu candidamente: “Eu não tenho nenhuma
influência no PT”.
A propósito das declarações do ex-diretor da Petrobrás Renato Duque,
indicado pelo PT, segundo as quais Lula mandou que ele destruísse provas
da existência de contas secretas no exterior abastecidas com dinheiro
do petrolão, o ex-presidente teve de confirmar o encontro num hangar no
Aeroporto de Congonhas. Mas, é claro, apresentou outra versão para os
fatos. Disse que o ex-diretor da Petrobrás negou ter conta lá fora e,
assim, encerrou o assunto. Se a intenção de Lula era apenas perguntar se
Duque tinha conta no exterior, por que marcar um encontro top secret
num hangar? No contexto, a suposta ordem de Lula para que Duque
destruísse provas faz todo o sentido.
Mas as agruras de Lula não param por aí. O marqueteiro João Santana, por
exemplo, disse que ele estava plenamente informado de que pagamentos
por seus serviços na eleição de 2006, vencida pelo petista, foram feitos
via caixa 2. O mesmo com Dilma Rousseff, para cujas campanhas (2010 e
2014) João Santana trabalhou.
Santana contou que toda negociação era feita por Palocci, mas o
ex-ministro lhe dizia que nada podia ser feito sem “a palavra final do
chefe”, o Lula. Magoado e ressentido com o abandono de Lula e premido
pela força de denúncias potentes, Palocci está negociando acordo de
delação premiada. Seu depoimento tira o sono do ex-presidente. Com
razão.
Lula está aprisionado no labirinto das suas mentiras e do seu cinismo.
Briga contra os fatos. Mas a verdade está gritando na seriedade da
democracia e no coração dos brasileiros. Seu deboche das instituições
tem pegado muito mal. De fato, Lula nada explicou. Nada disse que
ajudasse os brasileiros a entender por que recebeu milhões de reais de
empresas condenadas por esquemas de corrupção na Petrobrás e de lobistas
traficantes de medidas provisórias no seu governo. O mito está
derretendo.
A sociedade precisa estar atenta. Vivemos um momento perigoso. Os
assaltantes do dinheiro público e os estrategistas do projeto de
perpetuação do poder, fortemente atingidos pela solidez das nossas
instituições democráticas, não soltarão o osso com facilidade. Farão o
diabo para não perder a boquinha. O País está radicalizado por causa da
luta de classes tupiniquim do “nós contra eles”. Há riscos no horizonte.
Mas precisamos acreditar no Brasil e na capacidade de recuperação da
nossa economia. A sociedade amadureceu. O exercício da cidadania rompeu
as amarras dos marqueteiros da mentira. A imprensa, o velho e bom
jornalismo, está mostrando sua relevância para a sobrevivência da
democracia e das liberdades.
Graças ao papel histórico da imprensa e à legítima pressão da sociedade,
o Brasil não será o mesmo. Impõe-se, para isso, que a sociedade,
sobretudo a juventude, idealista, alegre e tolerante, dê um basta às
tentativas, claras e despudoradas, de inauguração do maior bordel
político da nossa História.
Este artigo estava pronto quando explodiu o noticiário das gravações de
Michel Temer e de Aécio Neves. O Brasil precisa ser refundado.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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