Jornalista Andrade Junior

sábado, 27 de maio de 2017

POR QUE OS “IRMÃOS ESLEY” DA JBS PODEM SER PRESOS

 por Luiz Marcelo Berger.

 O verdadeiro terremoto causado pela delação da JBS possui várias particularidades, dignas dos melhores (ou piores) romances policiais, como se já não bastasse aquilo que foi revelado através do departamento de propinas da Odebrecht. Para engendrar plano tão sofisticado é necessário que se entenda que os envolvidos são pessoas extremamente capazes, inteligentes e com grande propensão para assumir riscos.
Para melhor compreender os movimentos adotados é necessário retroceder ao inicio dos anos 2000, quando desde a ascensão ao governo, o PT (Partido dos Trabalhadores) adotou como política de Estado o investimento maciço nos chamados campeões nacionais, cujo objetivo era, ao final, obter ganhos através do aumento de escala para competir internacionalmente. Como toda política engendrada dentro de gabinetes desconectados da realidade, todos os mais notórios ensinamentos gestados há décadas na teoria econômica foram solenemente ignorados, deixando um rastro de destruição e prejuízos sem precedentes da história do país.
Assim, para analisar a estratégia utilizada pelos “Esley Brothers” (Joesley e Wesley, donos da JBS) torna-se essencial entender um dos mecanismos fundamentais do campo da economia da informação que trata do risco moral, que se antecipa ao jogo perpetrado pela dupla de escroques internacionais, neste momento sediada em local seguro, fora da jurisdição criminal brasileira.
A política de campeões nacionais, inaugurada desde o início do governo Lula da Silva, cuja continuação nos governos Dilma foi ainda mais incrementada, ofereceu gigantescos recursos públicos, via BNDES, aos privilegiados com relações íntimas com os círculos do poder. O negócio comandado pela dupla de irmãos cresceu exponencialmente no mercado brasileiro, regado fartamente com recursos baratos e que, obviamente, serviam para alimentar a teia de propinas de políticos envolvidos nas operações criminosas da empresa.
Tudo ia bem até o momento em que a Lava-Jato chegou e começou a puxar o fio da corrupção de forma metódica e precisa, atingindo então o esquema montado pelos escroques da JBS.
Neste momento, quando se tornou evidente que as investigações chegariam inevitavelmente ao topo da administração do esquema, os irmãos “Esley”, de forma inteligente e estratégica, se anteciparam em anos para o advento desta possibilidade.
Antes de procurar as autoridades, utilizaram a montanha de dinheiro ofertado pelo BNDES para estabelecer solidamente suas operações em outras terras, assegurando assim, a continuidade e lucratividade dos negócios.
Os números das operações do grupo JBS não deixam dúvidas: mais de 80% de todo o seu negócio é gerado atualmente nos Estados Unidos, deixando o Brasil como moeda de troca neste jogo sujo. Este movimento de utilizar recursos públicos para financiar empregos e postos de trabalho no exterior é explicado pela atitude inadmissível, ou talvez criminosa, do BNDES, em conceder empréstimos sem garantias para evitar o risco moral, ou seja, o uso espúrio de cláusulas contratuais à revelia do interesse do órgão financiador.
Depois de feita esta engenharia corporativa, os “Esley Brothers” começaram a jogar com as autoridades acordos de cooperação, antevendo a possibilidade da investigação chegar no topo do comando da JBS, o que de fato veio a acontecer.
Aqui vem a novidade em termos de teoria dos jogos.
Os controladores da JBS não tinham e não têm nenhuma estratégia dominante. Ou seja, segundo as regras do jogo legal, leia-se colaboração premiada e acordo de leniência, eles não tinham nenhum poder de barganha para se livrar do inevitável fim. Só restava a estratégia minimax, ou seja, tentar minimizar as perdas inevitáveis usando um movimento suicida de colocar todos no mesmo saco e entregar todos os envolvidos, em face do conjunto de informações privilegiadas que dispunham.
Tal negociação foi feita com grande antecipação, quando as autoridades ainda não tinham a dimensão completa do descalabro, o que permitiu à empresa tempo suficiente para transferir quase a totalidade dos seus negócios para os Estados Unidos.
Como a literatura é farta neste tema, não existe crime perfeito.
Ao assumir riscos suicidas os Esley Brothers abriram a caixa de pandora das consequências imprevisíveis. Uma destas é não ter como controlar eventos fora do âmbito do jogo que estavam jogando na delação, como por exemplo, o uso criminoso de informação privilegiada para se beneficiar da flutuação do câmbio quando da divulgação dos termos da delação.
Pode-se prever que neste exato momento, as autoridades brasileiras, tendo conhecimento da vastidão de ilícitos cometidos pelos manos mafiosos, estão preparando o contra-ataque neste jogo que está longe de terminar. Podemos esperar que entre os próximos movimentos estará um mandato de prisão internacional em face dos crimes cometidos, ironicamente, fora do âmbito da delação, portanto, fora do manto protetor da imunidade.
* Luiz Marcelo Berger é doutor em administração e especialista em Teoria dos Jogos



































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