Roberto Dias - Folha de São Paulo
Ok, o procurador-geral da República vai argumentar repetidas vezes que o
acordo com a JBS era necessário para descobrir crimes de altas
autoridades. Mas isso não muda uma coisa. Quem olhar para a empresa e se
perguntar se o crime compensa chegará à resposta inescapável: compensa
sim, e muito.
A multa que sete executivos da JBS acertaram com a Procuradoria por
seguidas temporadas de falcatruas é de R$ 225 milhões. Quase tudo ficará
a cargo de dois deles, os donos Joesley e Wesley. A caba um caberá
pagar, parceladamente por dez anos, R$ 110 milhões. Não dá nem 4% do patrimônio individual (R$ 3,1 bilhões por cabeça, segundo a "Forbes" ).
É inquietante também comparar essa multa com o dinheiro confessadamente
envolvido no crime. A punição não alcança metade do que a JBS afirmou
ter dado ilegalmente para políticos. Questão de lógica: investia-se
porque retorno havia.
Existe um segundo acordo em andamento, de leniência, esse agora empacado. O pedido é que a empresa pague R$ 11,1 bilhões, e a contra-oferta chegou a R$ 4 bilhões. Sempre bom comparar grandezas: só no último ano ela faturou R$ 170 bilhões.
Isso no tocante ao dinheiro. Em relação aos criminosos a coisa é mais
absurda, pois ficaram livres. Enquanto Brasília literalmente pega fogo,
Joesley embarcou no seu jatinho para os EUA e mandou para lá um luxuoso iate batizado de Why Not.
A JBS cometeu reiterados crimes que resultaram no desvio de dinheiro
público para o bolso de seus acionistas e executivos. Olhar isso como
uma questão de entregar um peixe menor como isca para um maior é errado.
Trata-se da maior empresa privada não financeira do país.
Parte importante do significado do combate ao crime reside no papel
didático dessa atitude. No caso da JBS, os incentivos transmitidos para a
sociedade estão tortos. Qualquer um pode olhar as fotos do iate de
Joesley e se perguntar: "Por que não?".
extraídaderota2014blogspot
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