editorial do Estadão
Saqueada durante anos por uma das mais articuladas e vorazes quadrilhas instaladas no setor público brasileiro, a Petrobrás, maior estatal do País, começa a ressurgir como empresa administrada segundo padrões normais de profissionalismo e decência. Seu retorno à condição de companhia voltada para objetivos típicos do mundo empresarial, em busca de eficiência, de geração de caixa, de saúde financeira e de lucros para seus acionistas, continua sendo a notícia mais importante. O lucro de R$ 4,45 bilhões e outros dados positivos contidos nas contas do primeiro trimestre confirmam a permanência no rumo fixado a partir da mudança no governo federal e da renovação de sua diretoria, no ano passado. O objetivo se mantém, a recuperação avança e o sucesso dessa política reforça a convicção e a esperança de quem aposta no programa de ajustes e reformas iniciado há um ano.
Racionalidade e clareza de objetivos são valores desse programa, assim como da nova gestão da Petrobrás. A melhora de resultados apontada nas demonstrações financeiras do primeiro trimestre é atribuível basicamente ao compromisso com esses valores. A elevação das cotações internacionais contribuiu, sem dúvida, para a melhora do desempenho da empresa, mas boas condições de mercado fariam pouca ou nenhuma diferença se a gestão continuasse orientada por objetivos e critérios errados.
Com a nova administração, a política de preços foi subordinada a padrões empresariais, depois de ter sido usada, durante anos, como instrumento de contenção voluntarista da inflação. Além disso, os novos dirigentes empenharam-se na redução de gastos, criaram um importante programa de venda de ativos, baseado em critério de racionalização de objetivos e de custos, e ajustaram o ritmo dos investimentos às condições de sustentabilidade financeira. As despesas de vendas, gerais e administrativas diminuíram 27% em um ano e 21% na passagem do trimestre final de 2016 para o primeiro de 2017.
Durante o período petista, a Petrobrás seguiu uma programação mal calibrada de investimentos. Foi prejudicada pela interferência política na fixação de preços. Sujeitou-se a exigências irracionais de participação em todos os contratos de exploração e ainda suportou uma absurda imposição de conteúdo nacional mínimo em suas compras.
A combinação dessas políticas afetou severamente seu fluxo de caixa e sua capacidade de investir sem um crescente e mal planejado endividamento. Mesmo sem a pilhagem promovida por uma combinação criminosa de interesses políticos e empresariais, a estatal estaria condenada a graves problemas financeiros.
Durante alguns anos a Petrobrás notabilizou-se como a companhia mais endividada do mundo. Com a nova administração, o endividamento líquido caiu 18% em um ano e 4% entre o fim de 2016 e o fim do primeiro trimestre deste ano. Com essa melhora, reduziu-se a alavancagem, isto é, a relação entre a dívida líquida e o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização, conhecido pela sigla Ebitda.
A redução da alavancagem foi facilitada pela valorização do real, isto é, pela diminuição do valor em dólares da dívida. Mas, na direção oposta, houve o aumento do Ebitda, com um ganho de 25% em um trimestre. Este ganho é atribuível essencialmente à mudança dos padrões administrativos. A persistência nesse rumo permitirá à empresa continuar reduzindo o peso do endividamento, com ou sem auxílio das oscilações cambiais. Se essas oscilações forem desfavoráveis, o efeito negativo será menor do que seria se as condições financeiras da empresa fossem prejudicadas por uma administração de qualidade inferior.
Sob a nova gestão, inaugurada por um governo com padrões diferentes do anterior, a Petrobrás funciona de novo como uma empresa estatal de capital aberto, cumprindo uma função estratégica para o Estado e buscando proporcionar lucros a seus acionistas. Ficou para trás – de forma definitiva, espera-se – a fase de empresa privatizada em benefício de um agrupamento político e de seus aliados e comensais.
extraídaderota2014blogspot
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