editorial do Estadão
Os deputados e senadores terão bons argumentos para aprovar a reforma da
Previdência, sem muita distorção, se lerem o relatório de maio da
Instituição Fiscal Independente, criada no fim de 2016 para ajudá-los a
analisar e a avaliar as contas públicas. Segundo o relatório, a
aprovação dessa reforma “tornou-se o ponto central do ajuste fiscal a
médio e a longo prazos”. Sem a mudança no sistema de aposentadorias e
pensões, o teto de gastos fixado por emenda constitucional perderá
eficácia em 2022. Isso ocorrerá, advertem os autores do estudo, mesmo se
for usada integralmente a margem fiscal, isto é, o espaço legalmente
disponível para redução das despesas. Será impossível, portanto, cumprir
uma determinação constitucional. A alternativa, dirão os desinformados,
será eliminar a obrigação do corte. Mas essa resposta será um
despropósito monumental, como reconhecerá, facilmente, qualquer pessoa
com algum discernimento e algum sentido de responsabilidade.
A criação do teto de gastos foi o primeiro passo importante do atual
governo para corrigir o desajuste das contas públicas. Criado por emenda
à Constituição, esse dispositivo limita a expansão da despesa federal,
em termos nominais, em cada exercício, à inflação do ano anterior.
Embora contribua de forma importante para a imposição de alguma
disciplina ao gasto público, esse teto legal é insuficiente para impedir
a deterioração das finanças oficiais. Se o dispêndio da Previdência
continuar crescendo mais velozmente que a receita de contribuições, o
estouro das contas do governo será inevitável em poucos anos.
Mas o estrago irá muito além de uma devastação contábil: ano após ano
será preciso destinar uma parcela crescente da arrecadação do Tesouro
para cobrir o buraco previdenciário. A sobra para o funcionamento do
setor público – itens como educação, saúde, segurança e Justiça, por
exemplo – diminuirá até o esgotamento completo. Mas o desastre real,
isto é, financeiro, administrativo e provavelmente político, de fato
ocorrerá antes desse limite.
O teto valerá por 20 anos, com possibilidade legal de revisão depois da primeira década. Segundo o Relatório de Acompanhamento Fiscal de
maio, publicado ontem, “a aprovação dos principais pontos da reforma
ajudaria a cumprir o teto de gastos em 80%” dos primeiros dez anos, até
2025, portanto. Haveria controle das contas federais, portanto, por três
anos a mais do que na hipótese de rejeição da reforma.
Essa diferença é preciosa, quando se tenta, com muito esforço, livrar o
País do atoleiro fiscal onde afundou depois de anos de incompetência
administrativa, irresponsabilidade econômica e gestão criminosa das
finanças públicas. A longa recessão, a paralisação dos investimentos
públicos, o difícil controle da inflação à custa de juros muito altos e o
desemprego de mais de 14 milhões de brasileiros são consequências
inequívocas daqueles erros e escandalosos malfeitos.
Não se trata de uma escolha ideológica, ou moral, entre alternativas
equivalentes ou igualmente exequíveis. Disciplinar a execução
orçamentária, fechar sangradouros e controlar a expansão da dívida
pública são exigências práticas incontornáveis e aritmeticamente
irrefutáveis. Qualquer parlamentar, mesmo com limitada preparação para
discutir e avaliar assuntos de interesse público, deve ser capaz de
reconhecer esses dados. O relatório apresentado pela Instituição Fiscal
Independente apenas confirma, com novos detalhes, a urgência da reforma
da Previdência e, de fato, de outras mudanças econômicas e fiscais.
Mas até o esgotamento da margem fiscal – onde se incluem gastos sociais,
investimentos e parte do custeio – parece uma hipótese extrema, quando
se considera o conjunto de funções públicas. Não há tempo para
hesitação. A melhora de R$ 11,1 bilhões conseguida pelo governo federal
no primeiro trimestre, na comparação com o ano anterior, foi sugada pelo
déficit crescente da Previdência. Não há alternativa à disciplina e a
reformas, começando pela previdenciária, pelo menos fora do âmbito do
pensamento mágico.
extraídaderota2014blogspot
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