Editorial O Estado de S. Paulo
Além disso, seu entorno político faz questão de deixar claro que Lula não sofre de destemperança verbal ou de arrebatamento retórico – fala acima do tom de caso pensado, para vender a ideia de que é um coitado e está sofrendo um massacre.
Os supostos ataques contra Lula nada mais são do que a revelação de informações de alto interesse público: a promiscuidade do ex-operário com as grandes empreiteiras. Revela-se também como algumas dessas empresas se esforçam por oferecer um pouco de bem-estar ao líder político que cresceu atacando as elites. Não publicar tais informações seria dispensar um tratamento privilegiado a quem sempre afirmou combater os privilégios.
É compreensível o desejo de Lula de que essas informações permanecessem ocultas. Com seu faro político, sabe bem que essas notícias esburacam o que esperava que fosse um fácil caminho para 2018. Certamente Lula intui como o povo – esse que sofre as consequências da grave crise econômica, com inflação e desemprego crescentes, e não tem a quem recorrer na hora da reforma da casa – vê tudo isso: apartamento, sítio, cotas, reformas, barco, amizades, favores, pescarias.
A compreensível irritação de Lula diante de todas essas notícias não justifica, no entanto, sua metralhadora giratória contra a imprensa. Sua atitude apenas faz abrir ainda mais o fosso entre o que ele é, de fato, e o mito do grande estadista democrata que ele ajudou a criar para proveito próprio e da companheirada. Democratas não agem assim. As coisas mal explicadas, mal contextualizadas, um democrata honesto trata de explicá-las convincentemente. Lula sempre teve à sua disposição todos os meios para informar com transparência. No tempo em que ainda distinguia a sua realidade do mito que não parou de criar, Lula não se cansava de dizer que devia a sua ascensão social e política ao trabalho da imprensa. Mas ele mudou, sem deixar de ser o mesmo. Agora tenta, sem sutilezas, fazer o povo de bobo, menosprezar sua inteligência ou seu senso comum.
A vitimização de Lula é realmente muito perigosa, desperta talentos e instintos bestiais. Seu fiel escudeiro, Tarso Genro, por exemplo, escreveu em sua conta no Twitter: “A mídia faz de Lula o judeu da década, como os nazis fizeram deles e comunas os alvos do seu ódio à democracia social. É só ler. Weimar”. Isso não é apenas um grosseiro despropósito. É um desrespeito que atinge até mesmo quem o proferiu, além de causar óbvios e profundos danos à verdade e à democracia.
O ex-presidente Lula não está sendo perseguido, massacrado ou muito menos torturado. Tem a seu dispor todos os legítimos meios de defesa característicos de um Estado Democrático de Direito. Se não os usa, é porque não confia em sua eficiência, ou melhor, sabe que tais meios desembocam naquilo que ele quer evitar: a verdade. Prefere a demagogia – a arte de engabelar os trouxas.
extraídadeaverdadesufocada
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