Pedro do Coutto
Num excelente artigo do Estado de São Paulo, edição de domingo, o jornalista Rolf Kuntz analisou objetivamente o desempenho da economia brasileira de 2015 (queda de 3,6% do PIB) e a perspectiva para novo recuo, este de 2,6 pontos em 2016. Somam, assim, um encolhimento da ordem de 6,2%, digo eu, enquanto nos dois exercícios a população do país será 2% maior que a do início do ano que se aproxima do crepúsculo. Rolf Kuntz acentua que a perspectiva negativa é praticamente unânime. A salvação – disse – está em Nelson Rodrigues, para quem a unanimidade é burra.
A esperança para o colunista de O Estado de São Paulo encontra-se na perspectiva de os fatos confirmarem o grande dramaturgo, meu saudoso amigo. Francamente, a esperança está no jogo de palavras exprimindo o óbvio ululante. Perfeito. Mas deslocando o impasse na economia para o inevitável espaço político, na minha impressão o palco nacional pode ser sintetizado com o título da peça que estreou em 1956 no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: “Perdoa-me por me traíres”. Única peça do Nelson em que ele pisa o palco vivendo o personagem tio Raul, chamado pelo sobrinho para amenizar seu conflito conjugal. Mas esta é outra questão.
“Perdoa-me por me traíres”, poderia afirmar o PT ao povo, uma vez que a sociedade está reagindo pessimamente às medidas colocadas em prática pela presidente Dilma Rousseff, colidindo com seus compromissos de campanha no episódio da reeleição. A economia encolheu, o desemprego aumentou, atingindo o índice nevrálgico de 9,7% da mão de obra ativa. Em consequência, o consumo desabou, as receitas tributárias diminuíram.
A baixa aprovação de Dilma Rousseff, demonstrada pelo Datafolha e pelo Ibope, prova ao mesmo tempo a surpresa e a revolta popular. As pesquisas, em síntese, assinalam o arrependimento de grande parcela dos que sustentaram sua vitória nas urnas. Eleitores são tomados do impulso imaginário de buscarem os votos de volta, mas como não podem fazê-lo, desesperam-se. Perdem a visão otimista que os levou a votar.
DECEPÇÃO E IMPEACHMENT
Esta é a sensação dominante de decepção. Nada tem a ver com a hipótese de impeachment, já desfocada e superada pelo encaminhamento dos fatos. E na vida não se pode brigar com os fatos, tampouco confundir o que se deseja que aconteça com o que está de fato sucedendo. E se as investidas pelo impedimento da presidente da República encontram-se congeladas, como lembrou bem Ricardo Noblat, na coluna de O Globo, edição de segunda-feira, ainda mais remota é a possibilidade de o TSE acolher a ação impetrada pelo PSDB e anular as eleições presidenciais do ano passado.
A atmosfera aponta para os dois sentidos opostos e direciona a solução do conflito político econômico para 2018. Por isso, assinalo novamente: “Perdoa-me por me traíres”, dirá o PT ao povo? Ou o povo ao PT? Dá no mesmo, a força da expressão rodrigueana predomina. Talvez até, simultaneamente, o eleitorado diga ao Partido dos Trabalhadores e o PT afirme o mesmo ao eleitorado.
Reforçando a contradição, vale a pena citar o trecho final do artigo de Henrique Meireles, Folha de São Paulo de domingo: ” O processo (de recuperação) é mais eficaz e transformador se vier acompanhado de reformas pró-crescimento fiscal, trabalhista e previdenciária que restaure a capacidade de crescer de forma sustentável.”
Exatamente o contrário do que foi realizado até agora, acrescento eu.
extraídadetribundainternet
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