por Igor Gielow Folha de São Paulo
O desânimo que tomou conta dos círculos mais altos do governismo é boa
régua da fragilidade do terceiro ciclo de Dilma Rousseff na Presidência,
iniciado na reforma ministerial de outubro.
Ainda sofrendo o choque das prisões da semana pela Lava Jato, os
remanescentes na cidadela de Dilma estão sem reação, como moradores
intramuros sitiados pela peste.
Os termos do acordo da Andrade Gutierrez no escopo da operação,
admitindo corrupção em vistosas vitrines dos anos do PT no poder, vieram
como prego de caixão luxuoso. Como diz um governista graúdo, "agora é
rezar em dobro".
As preces até estavam funcionando. O arco narrativo da crise sugeria um
respiro tático a Dilma, jogando alguns de seus problemas centrais para
2016. Não mais: os sortilégios insinuados na delação de Nestor Cerveró e
numa eventual fala de Delcídio do Amaral se unem à vitória progressiva
da entropia na vida real.
A gravidade da situação é mensurável no terrorismo feito por Joaquim
Levy em entrevista ao "Estado". O ministro da Fazenda sugeriu uma
variante bananeira do "shutdown" americano. Não acabou bem assim, mas
indica a extensão do efeito das forças destrutivas na economia.
Como escreveu o senador tucano José Serra, só uma solução política,
qualquer que seja, pode fazer a roda girar. Dada a geleia em que o
Parlamento se transformou e o fato de que o Executivo é um senhorio
ausente, os olhos se voltam para o conglomerado jurídico-policialesco
para que o desejado "algo" aconteça.
Há riscos evidentes nesse cenário, como um ativismo judicial que seja
confundido com asseveração de autoridade. A esta altura, contudo, são
preferíveis interpretações legais draconianas à estarrecedora
sem-cerimônia explicitada na trama hollywoodiana contra a Lava Jato.
É o melhor que temos agora, e sinaliza algum limite para a esgarçadura institucional do país.
extraídaderota2014blogspot
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