editorial de O Globo
Até a descoberta das reservas de petróleo no litoral de Campos, na
década de 80, e, mais recentemente, do pré-sal, na costa fluminense e
paulista, quedas abissais do preço do petróleo eram festejadas no
Brasil, porque o país dependia visceralmente das importações de óleo.
Não se chegou à autossuficiência, apesar de toda a propaganda
político-eleitoral em torno do tema, mas a expansão da exploração em
Campos e o avanço rumo ao pré-sal elevaram a produção para a faixa dos 2
milhões de barris diários, atendendo parte importante do consumo
interno.
O preço internacional passou, então, a afetar os interesses brasileiros em outros aspectos.
Um dos principais, a viabilidade comercial de amplas áreas do pré-sal, o
“passaporte para o futuro” , como regojizou-se o presidente Lula. Neste
sentido, a atual fase de queda vertiginosa das cotações do petróleo
preocupa quem imagina ser o pré-sal o bilhete de loteria premiado de que
tanto se falou.
No auge da euforia petrolífera, entre o fim do segundo mandato de Lula e
a primeira parte do governo inaugural de Dilma, o barril do petróleo
estava na faixa dos US$ 100, até alguma coisa acima.
Na história da Humanidade, inúmeras vezes avanços tecnológicos
modificaram de forma radical verdades inquestionáveis. Hoje, acontece
com o petróleo, a partir do desenvolvimento nos Estados Unidos da
tecnologia de obtenção de óleo e gás por meio do fracionamento de
determinado tipo de rochas.
Junto com a desaceleração chinesa e mundial, o grande crescimento da
produção americana — em junho, com 11 milhões de barris, os EUA passaram
a ser o maior produtor mundial, à frente de Arábia Saudita e Rússia —
ajudou o petróleo a desabar, fenômeno potencializado pela decisão
saudita de abrir as válvulas e derrubar mais ainda as cotações, para
garantir mercado e inviabilizar comercialmente a nova fonte americana.
Com isso, também colocou pontos de interrogação diante do pré-sal.
Alguns preços de referência de petróleo bateram US$ 37, acima do custo
de produção no pré-sal, calculado em junho pela Petrobras entre US$ 40 e
US$ 57. Confirma-se que foi erro crasso do lulopetismo, movido a
ideologia, suspender por cinco anos os leilões, a fim de instituir o
modelo de partilha no pré-sal, com alta intervenção do Estado. Assim , o
Brasil perdeu importante janela para atrair bilhões de dólares.
Agora, na atual conjuntura, não há mais interesse no pré-sal brasileiro.
Nem a Petrobras tem como tocar a exploração como estabelece a
legislação estatista, com 30% obrigatórios de todos os consórcios e
monopólio da operação. Se já seria difícil antes do petrolão, hoje, com
as finanças da estatal arruinadas pela corrupção, é impossível.
Há, ainda, o sinal de alerta da COP-21 de que a era dos combustíveis
fósseis pode ter entrado na reta final. O Brasil, país cuja população
envelhece sem que tenha ficado rica, pode ter chegado ao pré-sal tarde
demais, até por preconceitos ideológicos. Perda histórica dupla.
extraídaderota2014blogspot
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