por Vinicius Mota Folha de São Paulo
No Planalto está a presidente mais fraca e inapta à costura política desde Collor.
Chefia a Câmara um cadáver adiado que procria discórdia e cavilações. No
Senado, um macunaíma das Alagoas imagina que dá as cartas, enquanto
seus litígios penais só fazem aumentar.
A maioria no Supremo continua a fazer enxertos no sistema político,
baseada numa estética simplória do que seria a arquitetura ideal da
representação popular.
Papai STF aplica corretivos nos políticos há mais de uma década, quando
Nelson Jobim quis harmonizar numa canetada as coligações partidárias no
país continental. Não foi diferente na semana passada, com a proibição
pela corte de chapas avulsas na comissão do impeachment.
O vice-presidente, de estilo epistolar, não assegura hegemonia nem
sequer em seu partido, que dirá num alargado consórcio de forças,
necessário para rebocar a economia do atoleiro. Extensa e poderosa
parcela de empresários beneficiou-se do capitalismo estatal nos últimos
anos. Alguns foram presos. A maioria está calada.
A oposição cometeu estelionato eleitoral reverso. Prometeu na campanha
de 2014 austeridade na lida com o dinheiro público. Meses depois, no
Congresso, tornou-se sócia de uma investida cavalar do Legislativo
contra a responsabilidade fiscal.
Assim caminha o trem fantasma da República, no meio de uma recessão
inflacionária que vai piorar e alongar-se. Será tão severa e duradoura
quanto a que solapou o regime ditatorial no início dos anos 1980. Será
severa e duradoura porque tem sido alimentada pela inépcia, pela
pequenez e pelo egoísmo de lideranças políticas, institucionais e
empresariais.
A locomotiva desgovernada arrasta a composição para o desastre. No
desfecho apocalíptico, o despedaçamento do statu quo dificilmente
servirá de premissa para a reconstrução de um mundo melhor. Será
garantia de mais sofrimento.
extraídaderota2014blogspot
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