Editorial do Estadão:
“Podem ficar tranquilos que, com o tempo
necessário, vamos resolver todos os problemas.” Se dependesse apenas do
industrioso e deslumbrado otimismo do novo ministro da Fazenda, Nelson
Barbosa, os brasileiros já poderiam começar a se preparar para a
comemoração de uma nova e auspiciosa era de prosperidade como nunca
antes vista na história deste país. Ainda em seu gabinete no Ministério
do Planejamento, Barbosa recebeu o Estadão com
exclusividade, no sábado, para garantir que vai “aperfeiçoar a política
econômica” e promover uma “retomada mais rápida do crescimento da
economia”. Tudo isso com “estabilidade fiscal” e “controle da dívida
pública”.
Tomadas pelo valor de face, essas declarações
em nada distinguem o novo ministro de seu antecessor Joaquim Levy. É o
caso, então, de perguntar: por que a troca? A primeira resposta Barbosa
ofereceu claramente agora que se sentou na cadeira que há muito
cobiçava: assimilou muito bem o ensinamento do mestre Lula de que,
quando se abre a boca para falar, é preciso saber bem o que as pessoas
querem ouvir. Barbosa, não nos esqueçamos, orgulha-se de ser quadro fiel
do PT. E demonstra a habilidade retórica que nunca foi o forte de seu
antecessor.
Pelo menos até agora, o ministro diz apenas o
que soa bem aos ouvidos de quem lhe cobra definições. Para o mercado,
mirando o futuro, ressaltou enfaticamente a importância do ajuste fiscal
para colocar em ordem as contas públicas e recuperar a confiança dos
investidores numa economia fortemente dependente dos desígnios
governamentais. Para quem ainda cultiva o fetiche de ser de “esquerda” –
ou seja, a obstinada militância petista e as organizações sociais
dependentes do poder central –, preferiu falar do passado: apresentou-se
com a credencial de ter participado “do período dos governos do PT em
que houve crescimento da renda per capita de todos os segmentos, sendo
que a dos mais pobres foi a que cresceu mais”. Esse é o estilo
lulopetista do novo ministro da Fazenda.
Ao nomear Joaquim Levy, um ano atrás, com a
missão precípua de botar em ordem as arrombadas contas do governo, Dilma
Rousseff tinha consciência da falência da política econômica sustentada
pela gastança para promover o crescimento da economia via aumento do
consumo. Essa “nova matriz econômica” fora concebida ainda no governo
Lula, quando havia dinheiro sobrando para gastar graças à combinação de
um mercado internacional generoso com os fornecedores de matéria-prima
com uma política fiscal ainda minimamente fiel aos fundamentos do
indispensável equilíbrio. Já no início do segundo mandato de Dilma o
reajuste fiscal era a prioridade número um, porque era preciso colocar o
pé no freio da gastança.
Mas como colocar isso na cabeça de quem
entende que o governo tudo pode e, portanto, basta ter vontade política
para custear todas as justas reivindicações populares? Foi aí que Dilma,
já complicada na área política por suas próprias lambanças, passou a
ser fortemente pressionada por seu criador, que não perdia ocasião para
gritar: “Fora Levy”.
Levy não deu conta do recado e agora temos
Barbosa. Ele é um “desenvolvimentista” – seja lá o que isso quer dizer –
que, aparentemente, tem um olhar retrospectivamente crítico sobre a tal
“nova matriz econômica” de que um dia se orgulhou tanto. Pelo menos,
recusa-se a ressuscitar a expressão: “Não gosto de debater política
econômica com base em rótulo, estereótipo ou caricatura. A diferença
entre governo e economia é que estamos aqui para resolver problemas, não
para provar ou refutar teses. É importante interpretar o passado, mas
mais importante ainda é aprender com os erros e com os acertos do
passado”. Se for uma autocrítica sincera, ótimo!
Mas, se está muito claro o que deve ser feito
para, conforme garante o novo ministro, “construir a estabilidade e a
recuperação do crescimento”, cabe outra pergunta: por que isso não foi
feito até agora? Em recente encontro com Dilma, Lula teria dito à
pupila: “Você precisa liberar o crédito, fazer a roda da economia girar e
dar notícia boa”. Parece fácil, pelo menos para Lula. É aí que reside o
perigo.
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