por Hélio Schwartsman Folha de São Paulo
É precisa a análise que Eduardo Cunha faz das movimentações do governo,
nem todas confessáveis, para salvar o mandato de Dilma Rousseff. São
irretocáveis as explicações que a esquerda dá para as decisões, muitas
das quais transcendem os limites da cara de pau, de Cunha à frente da
Câmara. Como escreveu François de La Rochefoucauld, "a opinião que nosso
inimigo tem de nós está mais perto da verdade do que a nossa própria".
Vivemos tempos que tornam tentadora a solução argentina do "que se vayan
todos!". No plano ético, talvez seja isso mesmo, com a ressalva de que
deve existir uma ou duas dúzias de pessoas honestas atuando na política.
A Operação Lava Jato já comprometeu PT, PMDB e PP e levantou suspeitas
sobre representantes dos principais partidos do país, incluindo os
oposicionistas PSDB e DEM.
A questão é que nem só de ética vive o ser humano. Enquanto o anarquismo
permanecer um sonho distante, precisaremos de um governo, que será
necessariamente constituído com o material humano de que dispomos. O
dilema que se coloca, então, é definir se, no plano pragmático, vale a
pena tirar Dilma para colocar Michel Temer em seu lugar.
Numa primeira análise, pode parecer que sim. Se Dilma não conseguiu até
aqui conduzir uma agenda de salvação da economia, é pouco provável que
tenha sucesso mais adiante, já que a crise só a enfraquece
politicamente. O problema é que um eventual governo Temer não seria
muito diferente.
Se a hipotética gestão ganharia apoio de setores da oposição, provaria
também a sanha de um PT ferido e de movimentos sociais que não teriam
mais pruridos em convocar greves e protestar contra reformas que serão
para tirar benefícios e não dá-los. De resto, a espada da Lava Jato
continuaria pairando sobre os próceres da República, que poderiam, como
agora, acordar com a PF à porta. Essa crise, com ou sem impeachment,
ainda dura.
extraídaderota2014blogspot
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