por Mary Zaidan Com Blog do Noblat - O Globo
Quando cumpria seu primeiro mandato na Assembleia de Alagoas, o jovem
Renan Calheiros surrava sem compaixão o prefeito de Maceió, Fernando
Collor de Mello, a quem se referia como “príncipe herdeiro da
corrupção”. Poucos anos depois, já deputado federal, lideraria a
campanha do “caçador de marajás” à Presidência da República e, mais
tarde, o processo de impeachment do ex-amigo. De lá para cá, o todo
poderoso presidente do Senado aperfeiçoou-se na prática de sugar o outro
ao máximo e descartá-lo seco e sem sumo quando não tem mais serventia.
Nada indica que com a presidente Dilma Rousseff será diferente.
Desde o início do segundo mandato de Dilma, Renan tem oscilado entre o
apoio e puxões de tapete. Longe de qualquer inspiração republicana, o
humor varia de acordo com o que ele pode obter do governo. Um padrão que
repete desde sempre.
Igualmente hábil no cultivo de amigos e de inimigos por conveniência, é
afável e ferino em proporções quase idênticas. Aprontou com José Sarney,
que virou seu amigo e mentor, e com o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, de quem foi ministro da Justiça. Ajudou Collor a destruir o
então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, aliou-se a Lula para acabar
com Collor e juntou os dois – Lula e Collor – quando vislumbrou frutos
para si na união.
Quanto a Dilma, nunca a levou a sério. Entre quatro paredes, fala horrores dela.
Mas, sob pressão de meia dúzia de processos no âmbito da Lava-Jato, não
perderia jamais a oportunidade de ofertar o ombro a uma presidente sem
crédito e desamparada.
Especialmente depois de Renan ter o seu sigilo bancário e fiscal
quebrado, informação que só se tornou pública neste fim semana, em reportagem da revista Época.
Ocorrida há mais de uma semana, a autorização do STF para vasculhar
suas contas podem explicar o ímpeto governista que se apossou de sua
alma nos últimos dias.
Presidente do Senado que já renunciou ao cargo uma vez para manter o
mandato, Renan sabe que, caso tenha de repetir a dose, não basta verbo
para convencer seus pares. É mais experiente, safo. Tem olhos para ver o
que ocorre na Casa ao lado, onde o presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
conta cada vez com menos aliados.
Curiosamente, Cunha – que há muito deveria estar fora do posto e do
Parlamento – passou a ter a torcida do Planalto e até alguma ajuda, em
surdina, para permanecer no cargo. Tê-lo lá permite ao governo manter a
estratégia de acusá-lo de ter aberto o processo de impeachment por
simples vingança.
Na outra ponta, a fidelidade de última hora de Renan começou a ser
construída como arrimo para uma eventual catástrofe. Seu primeiro foco
foi o PMDB, seara na qual tinha perdido terreno para o vice-presidente
Michel Temer. Para tentar abatê-lo, pediu que o TCU auditasse decretos
assinados pelo vice da mesma natureza dos que constam na solicitação de
impedimento de Dilma.
Renan fez isso de forma calculada, antes de ser aquinhoado pelo Supremo
com o poder absoluto de decidir sobre o impeachment e, portanto, de
escravizar Dilma.
Aprisionada e sem saída, a presidente fará o que Renan mandar até a
última gota de tinta de sua caneta. E, assim como fez com outros, Renan
só vai suportá-la enquanto auferir vantagens.
Ao contrário do que diz a fábula, Renan não se esconde em pele de cordeiro. É lobo e se mostra como tal.
E estão alimentando a fera.
extraídaderota2014blogspot
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