RODRIGO CONSTANTINO O GLOBO
Sou o presidente da ONG Petistas Arrependidos e Traídos Organizados pelo Socialismo (PATOS), e antes de mais nada é preciso celebrar: com Nelson Barbosa na Fazenda começa, de fato, o segundo mandato da presidenta Dilma. Até então, o foco era o “ajuste fiscal”. É verdade que ele nem ocorreu, que os gastos do governo continuaram aumentando, que Joaquim Levy virou apenas um garoto-propaganda da volta da CPMF. Mas o que importa é o simbolismo, a narrativa.
Os economistas liberais defendem contas públicas equilibradas, mas a austeridade é recessiva. O que o país precisa é de um choque de “desenvolvimentismo”, de uma “nova matriz macroeconômica”. Sim, foram essas receitas da Unicamp que nos trouxeram à situação atual. Mas eis nosso mantra: quando uma teoria fracassa cem vezes, aí é que devemos aplicá-la uma vez mais, pois é a hora do milagre!
Basta perguntar ao nosso guru, Dr. Belluzzo. Ele só entende mais de futebol do que de economia, como se pode verificar no Palmeiras. Belluzzo foi um dos grandes mestres de Dilma, que seguiu seu receituário à risca. Como não deu certo, conforme os liberais alertaram, só nos resta colocar a culpa... nos liberais, no mercado, na crise internacional, no Darth Vader. E dobrar a dose do veneno, claro.
Nós, os PATOS, estávamos lá naquela manifestação chapa-branca a favor de Dilma, mas contra a política econômica de... Dilma. Agora que o bode expiatório foi sacrificado, estamos preocupados por não ter mais em quem colocar a culpa. O ministro Jaques Wagner disse que a política sempre foi de Dilma, e sabemos disso. Mas a presença de Levy ao menos servia para blindar a “presidenta”. Agora, ou vai ou racha. E se rachar de vez? Bem, sempre existirá o tal “neoliberalismo” para levar a culpa...
Eis as previsões de um economista liberal: a inflação vai continuar acima de 10% ao ano e não vai voltar para a meta nem em 2018; o desemprego vai aumentar bastante; a atividade econômica, que já vai cair mais de 3% este ano, terá tombo similar ano que vem; o dólar poderá chegar a R$ 5,00 em breve, quiçá a R$ 6,00; o Brasil, quebrado, vai voltar a bater na porta do FMI em busca de dinheiro; o brasileiro terá que cortar a carne do cardápio; Disney, nem pensar! Ou seja, 2015 ainda vai deixar saudades.
Pode ser que as previsões desse Pessimildo se confirmem. Afinal, ele estava certo quando disse que o Brasil mergulharia numa estagflação, e disse isso ainda em 2010, quando todos estavam eufóricos com o país. Mas, se isso acontecer, não será culpa das medidas inflacionistas, e sim do mercado, que se recusa a aceitar nossa ideologia, preferindo coisas obsoletas como matemática e lógica. Os PATOS não precisam de calculadora, pois possuem os dogmas.
Do ponto de vista político, os PATOS rejeitam a tentativa de golpe da oposição. Sim, sabemos que o impeachment está previsto na Constituição, e que o PT sempre o defendeu contra os outros presidentes. Mas os outros são os outros. “O governo parece até uma quadrilha. Todo dia tem uma pessoa ligada ao presidente envolvida em alguma falcatrua", disse Lula quando FHC era presidente. Hoje tudo mudou. Não vemos mais escândalos envolvendo o governo. Não nós, os PATOS, pois fechamos os olhos.
Lula, na ocasião, disse sobre FHC: “Ele perdeu o senso de responsabilidade e não poderia participar de uma conversa tentando criar condições para favorecer uma empresa". Isso foi quando o então presidente autorizou que usassem seu nome para convencer uma empresa a participar de um leilão de privatização, para aumentar a concorrência e o valor de venda do ativo, beneficiando o país. Hoje temos a simbiose de Lula com a Odebrecht, que transferiu milhões para sua conta. Mas Lula é Lula, o pai dos pobres.
O melhor amigo dos petistas hoje é Renan Calheiros. Mas Cunha é o demônio em pessoa. Eis nossa ética: defendemos os “corruptos do bem”, que estão do nosso lado. Dilma ganhou o apoio do grande artista e intelectual Tico Santa Cruz também, mostrando como ainda tem ícones culturais do seu lado, além do decadente Chico Buarque. Os PATOS se sentem traídos por alguns malfeitos petistas, mas o importante é manter a chama ideológica acesa e renovada.
Se nada der certo, ainda teremos a REDE e o PSOL. O partido de Marina Silva já abrigou o socialista Ranfolfe Rodrigues, e deve receber Paulo Paim, aquele senador que critica o PT por ser pouco de esquerda. A marca registrada dos PATOS é a insistência. Se o PT naufragar, a gente vai de PT novamente, ainda que com nova embalagem. É socialismo ou morte. Agora vai!
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
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