por Ruy Castro Folha de São Paulo
Nenhum escritor policial inglês ou americano conseguiria criar sozinho a
trama que estamos vivendo sob o nome de Operação Lava Jato. Nem Agatha
Christie ou Raymond Chandler seria capaz de dar conta de tantos plots e
subplots, quebras de narrativa, cenas de ação e, como suspeitos, gente
com conta bancária de até 11 dígitos. Sem falar na dança dos
coadjuvantes: todos os dias um novo nome assume o primeiro plano. Só não
tivemos –até agora– um cadáver.
O primeiro grande personagem foi José Dirceu. Equivalia ao sinistro
professor Moriarty, criado por Conan Doyle como o cérebro por trás de
tudo de ilícito na Londres vitoriana. Como um Moriarty com ideologia,
Dirceu armou o esquema que drenaria milhões da Petrobras e financiaria
um sistema que se eternizaria no poder. Só que, de repente, Dirceu se
tornou um personagem de John Le Carré: revelou sua fraqueza humana.
Aproveitou para também locupletar-se em causa própria e foi apanhado.
Mas o esquema sobreviveu, graças ao caso de amor do partido e de seus
aliados com diretores e gerentes da Petrobras. O resultado foi uma
armação de deixar no chinelo as redes de corrupção descritas por
Dashiell Hammett em "Seara Vermelha" e "A Chave de Vidro". A chegada de
tubarões como André Esteves, José Carlos Bumlai e Marcelo Odebrecht, por
sua vez, conferiu à história uma densidade digna de Frederick Forsyth.
Já o senador Delcídio do Amaral deu-lhe um toque de 007. Sua tentativa
de comprar o silêncio do diretor da Petrobras Nestor Cerveró, tirá-lo da
cadeia e despachá-lo para a Espanha num jatinho secreto parece coisa de
James Bond.
extraídaderota2014blogspot
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