por Aécio Neves Folha de São Paulo
Mantenho minha crença de que ainda poderemos nos tornar o primeiro
grande país desenvolvido do mundo com uma economia de baixo carbono.
A mudança do atual regime de desenvolvimento para um modelo sustentável
não é apenas um grande desafio, mas a nossa maior oportunidade
econômica, comercial e de mudanças sociais do século 21.
Pena que, engolfado por múltiplas crises e tendo como prioridade apenas
sobreviver ao verdadeiro desmanche de um projeto de poder, o governo
brasileiro chegue hoje a Paris, na mais importante conferência mundial
sobre o clima da atualidade, sem ter o que apresentar de substantivo.
Corremos o risco de ver, mais uma vez, o manejo artificial e conveniente
de estatísticas para de alguma forma não expor a realidade. E a
realidade é a retomada do crescimento do desmatamento na Amazônia e os
efeitos de uma das mais extensas tragédias ambientais do mundo, a de
Mariana, ainda pouco dimensionados em suas consequências.
Além disso, carregamos os saldos negativos das crises hídrica e
energética, o sepultamento da política de biocombustíveis e a
contradição da expansão de incentivos ao transporte individual, um dos
maiores emissores de gases de efeito estufa no mundo, em detrimento do
investimento em sistemas de transporte coletivo eficientes e
menos poluidores.
No campo legal, o Brasil já tem institucionalizados instrumentos para o
alcance de uma economia de baixo carbono. Definimos, inclusive, metas de
médio prazo.
A questão central é que, tal como acontece nas demais políticas públicas
nacionais, não há qualquer efetividade para torná-las factíveis e
reais. As metas são concretas. Os meios são vagos. Lembro que, em 2009,
instituiu-se às pressas a Política Nacional de Mudanças do Clima - PNMC,
muito mais para dar algum protagonismo político à então candidata Dilma
Rousseff do que como uma política estratégica para o país.
A PNMC brasileira previa dobrar o reflorestamento de 5,5 milhões de
hectares para 11 milhões na década seguinte. Até hoje pouco foi feito.
Também não saiu do papel o Inventário Florestal Nacional, incluindo a
mensuração do estoque de carbono das florestas brasileiras. Seis anos
depois, as principais iniciativas para reduzir as emissões são apenas
promessas.
O século 21 poderá ser o século ambiental, se formos capazes de
enfrentar com generosidade e responsabilidade os atuais desafios, a
bordo de uma inédita e necessária solidariedade entre as nações em torno
dessa causa comum, que será crucial para o destino do nosso processo
civilizatório.
O Brasil tem o dever de avançar mais nesse tema e, quem sabe, tornar-se
referência de um novo modelo de desenvolvimento sustentável.
extraídaderota2014blogspot
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