por Eliane Cantanhêde O Estado de São Paulo
Quando o impeachment parecia esfriar a caminho da geladeira, eis que a
semana esquenta e acaba com a presidente Dilma Rousseff na linha de
fogo. Mais uma vez, o problema não é a oposição, mas sim os próprios
aliados que põem os pés pelas mãos, sabem das coisas e podem decidir
falar poucas e boas. Aí, vira um salve-se quem puder.
Estamos falando, obviamente, dos novos personagens da semana, que vêm se
somar a Dirceu, Genoino, Delúbio, Vaccari, João Paulo Cunha e André
Vargas: o ex-líder do governo Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, o
banqueiro André Esteves e o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, além
do pecuarista José Carlos Bumlai, o amigão do Lula que andou levando
vantagem do nosso BNDES.
Todos eles estão presos. Todos eles sabem coisas do arco da velha. Todos
eles têm um enorme potencial de atingir não mais só o PT e o governo
Lula, mas também Dilma Rousseff. Principalmente se reavivarem a história
levantada com exclusividade pelo Estado no ano passado sobre a compra
inacreditavelmente irresponsável da refinaria de Pasadena, nos EUA. Essa
história vaga como alma penada na Procuradoria, na Polícia Federal e no
TCU.
Nesse enredo que deixou de ser econômico, passou a ser policial e está
virando filme de terror, Cerveró diz na delação premiada (que vazou para
os principais interessados) que Dilma não apenas “sabia de tudo” como
acompanhou diligentemente a negociação de Pasadena.
Afora o fato, em si já muito grave, de que alguém deve ter ganho
fortunas para repassar a delação a Delcídio e ao banqueiro Esteves,
acendem-se todos os sinais amarelos no Planalto e no PT. Se Cerveró já
andou dizendo isso, o que mais poderá dizer sobre a participação de
Dilma, que era chefe da Casa Civil de Lula e presidente do Conselho de
Administração da Petrobrás? E Esteves, o que tem a dizer? E Delcídio,
vai cair sozinho?
É por essas e outras que o Planalto tenta fazer “hedge” alardeando que
teme “as mentiras” de Delcídio. Já o PT se precipitou perigosamente ao
jogá-lo aos leões depois de pôr Vaccari e outros no colo. Em nota
classificada de “covarde” pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, o
PT diz que “nenhuma das tratativas atribuídas ao senador (Delcídio) tem
qualquer relação com sua atividade partidária”. E arremata: “O PT não se
julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade”. Com Delcídio preso,
depondo e sem muito mais a perder, essa nota tem explosivo potencial
bumerangue.
Muitíssimo mais esperto, como sempre, foi Lula. Lê-se que, em evento na
CUT ontem, ele reduziu a prisão e as agruras de Delcídio a um erro
tático: deixar-se gravar pelo filho de Cerveró, fazendo as propostas
mais obscenas ao ex-diretor. Segundo Lula, foi “uma grande burrada”, uma
coisa “imbecil” e “idiota”. Leia-se: que Delcídio desviasse, roubasse,
cometesse qualquer crime, tudo bem. Só não podia cair na esparrela de
falar demais diante de um microfone escondido.
Tem-se, assim, que o grande escândalo não foi a prisão inédita de um
senador no exercício do mandato, nem a prisão do líder do governo no
Senado, nem a prisão de um dos homens mais ricos do país, que navega com
igual desenvoltura nas águas do PT e do PSDB. Isso foi apenas mais uma
etapa da Lava Jato. O maior escândalo, aparentemente, ainda está por
vir. É por isso que os nervos andam à flor da pele no Planalto e
arredores.
Força feminina. Foram
duas médicas de Pernambuco que suspeitaram do súbito aumento de
microcefalia. Foi uma médica da Paraíba que tomou a iniciativa de pedir
análise para o Rio. Foi a equipe de uma médica da Fiocruz que
identificou o Zika vírus. E foi uma jornalista, Ligia Formenti, do
Estado, quem divulgou primeiro tanto o surto de microcefalia quanto as
suspeitas sobre o Zika vírus. Parabéns, mulheres!
extraídaderota2014blogspot
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