por Vitor Hugo Soares Com Blog do Noblat - O Globo
Fazer perguntas e, principalmente, buscar respostas verdadeiras e
convincentes virou algo mais fundamental, ainda, nesta incrível semana
de fim de novembro, de tramas diabólicas em Brasília e transações mais
que tenebrosas na vida política, econômica, governamental e criminal do
Brasil.
Raramente senti tanta necessidade e urgência de “fazer boas perguntas
(incômodas ou não), esta arte maior na entrevista ou na reportagem”, a
exemplo do que ensinava o mestre Juarez Bahia (sete prêmios Esso
conquistados), quando editor nacional do Jornal do Brasil.
Isto, principalmente, diante dos fatos e seus devastadores
desdobramentos, a partir da divulgação do conteúdo das gravações, no
telefone celular, feitas por Bernardo Cerveró (filho do ex-diretor da
Petrobras apanhado na Lava Jato), que levaram à cadeia o senador do PT,
Delcídio Amaral (líder do Governo Dilma no Congresso); Diogo Ferreira,
seu chefe de gabinete, e o banqueiro André Esteves (do Pactual BTG).
Além do advogado Edson Ribeiro, (“defensor” de Cerveró), preso pela
Polícia Federal,&n bsp;nesta sexta-feira 27, no aeroporto
internacional do Rio de Janeiro, ao desembarcar de uma viagem a Miami,
novo paraíso brasileiro nos Estados Unidos.
Sobre o senador Delcídio, muito foi dito e perguntado, desde a votação
histórica do Senado - contra a vontade expressa de seu presidente Renan
Calheiros -, que acatou a decisão do ministro Teori Zavaski (acolhida à
unanimidade dos membros do Supremo) de manter preso o líder do governo
Dilma, figurão de larga e transversal influência em outros governos, na
política e na atividade parlamentar e dos negócios dos últimos anos no
País.
Ainda assim, sobram inumeráveis questões no ar. O representante de Mato
Grosso do Sul precisará respondê-las, sem os jogos vazios de palavras e
sem escamotear os fatos, como pareceu evidente no seu primeiro
interrogatório na PF, a deduzir pelo relato apresentado aos jornalistas
por seu advogado. Perguntas, perguntas: é preciso interrogar cada vez
mais, doa a quem doer. É preciso ser incômodo mesmo.
É assim que se chega à verdade por inteiro e sem máscaras. Salvo em
lampejos brilhantes, a exemplo da idéia de Bernardo Cerveró (ou de quem o
orientou) de gravar com um celular ligado no bolso da calça, toda a
conversa com o senador, o assessor e o advogado, num quarto de hotel em
Brasília. Ação arriscada, mas elogiável ato em defesa do pai e de sua
família. Digno dos maiores heróis de contos e romances policiais, do
passado ou da tecnológica atualidade.
Depois disto, de tudo que se viu e ouviu até aqui, urgentes e
inescapáveis questões devem ser destinadas ao advogado Edison Ribeiro e
aos condutores atuais dos destinos da histórica e (outrora) gloriosa
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seu Conselho Federal e seccionais
estaduais.
Qual o motivo do estranho e complacente comportamento da Ordem, até esta
sexta-feira, neste caso mais que escabroso para o parlamento e para a
advocacia no Brasil? Que análise ética faz e como interpreta, a OAB, o
“modus operandi” de quase gangster mafioso, exibido por um de seus mais
afamados filiados, cujo nome e ações, comparáveis à de um Mefisto
(diabólico personagem de Klaus Mann, que vende a alma por dinheiro, fama
e poder), ganham agora dimensões internacionais com a demolidora
gravação no hotel em Brasília.
O presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coelho, enviou um ofício,
quinta-feira (26), à seccional do Distrito Federal, "solicitando a
abertura de um procedimento ético-disciplinar para apurar a conduta do
advogado Edson Ribeiro”. Ok, mas, apesar do palavrório de ofício formal e
burocrático (tão ao gosto no país de quem não quer apurar nada, ou
deseja empurrar tudo com a barriga), resta a pergunta: Qual a palavra
moral da OAB à sociedade, frente a torpe e escancarada ação de um agente
do direito, traindo a vontade de um cliente e de sua família, tenta ndo
obstruir a ação da Justiça?
Pessoal e profissionalmente, quantos investigados ele ajudou a escapar
do alcance da polícia e dos juízes, utilizando-se da ponte aérea
clandestina e criminosa “do Mercosul”, via Paraguai, como ele se
vangloriou na conversa com o senador Delcídio, o assessor e o filho de
Cerveró. Quais os nomes? Quem financiou tais operações criminosas?
E cai o pano deste ato insólito da peça em cartaz, imprópria até para
adultos. A sociedade aguarda as respostas que se seguirão neste teatro
nacional de vergonha. A conferir.
extraídaderoga2014blogspot
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