por Percival Puggina.
Embora a palavra corrupção seja comumente empregada para designar
ações ilícitas visando a ganhar dinheiro, estas não são as únicas
condutas que se caracterizam como tais. Nem sempre os ganhos com a
corrupção têm natureza monetária. Assim, por exemplo, é corrupção buscar
benefício contra a verdade, ou seja, mentindo. É corrupção atribuir a
outros as próprias culpas. O emprego de sofismas e falsidades para
convencer sem ter razão preenche vasto catálogo de técnicas corruptas,
concebidas para induzir ao erro e, disso, levar vantagem. Usar a
estrutura do setor público gerando publicidade enganosa, enunciando
meias verdades, negociando o inegociável, comprando apoios e produzindo
desinformação também é corrupção. Haverá quem, adivinhando onde
quero chegar, interrogue: "Nesse caso, quem atira a primeira pedra?". É
uma pergunta esperta. Ela pretende induzir a uma recíproca absolvição
geral, tipo indulgência plenária, da qual todos se tornam credores visto
que praticaram os mesmos males. Restaure-se, assim, pelos deméritos
alheios, a saúde daquela outra velha senhora, a impunidade. Ora, o
crédito à primeira pedra (simbolicamente falando) cabe às instituições
da república e à imensa maioria do povo brasileiro. Este, de modo
ordeiro e cívico, já vem clamando pelo impeachment em memoráveis
manifestações, nas ruas do país. São cidadãos que não endossam acordos
velhacos, inconfessáveis, e não aceitam a retórica enganosa, o
raciocínio fraudulento, a publicidade mentirosa.
Pois é
exatamente esse tipo de manobra que os governistas puseram em curso.
Procuram confundir os atos de repúdio ao governo, expressos nos pedidos
de impeachment exigidos nas ruas e formalizados por cidadãos de bem, com
o que há de mais desqualificado na oposição parlamentar. Tentam fazer
de Eduardo Cunha o símbolo maior dessa oposição, obscurecendo o fato de
que os negócios do senhor Cunha aconteceram dentro dos mesmos esquemas
investigados na Lava Jato, ao tempo em que ele pertencia à base do
governo. Tentam transformar o impeachment em um negócio do Cunha e
buscam fazer desse lamentável cavalheiro uma espécie de dono do
impeachment. Ora, se já é pouco digno agir assim, em inescrupulosa
defesa do indefensável, sendo governista, muito menos digno é reproduzir
tal conduta na condição de formador da opinião pública, orientando-a
mediante sofismas e artifícios retóricos. São marujos do mar de lama!
Não mudarão o curso da história com artes e manhas tão corrompidas
quanto os corruptos que tentam proteger. Queiram ou não, sucessivas
pesquisas mostram que o legítimo senhor do impeachment, a contragosto de
quem ele jamais aconteceria, é o bom povo brasileiro. Se quiserem
atacar o impeachment, ataquem o povo.
EXTRAÍDADEPUGGINA.ORG
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