Por Waldo Luís Viana*
Tenho nojoDe ver meu país solapado por bandidos em todos os quadrantes, tranquilamente ciosos de que ficarão impunes;Tenho nojoEm
abrir os jornais, ouvir rádio e ver televisão todos os dias e perceber a
mídia valorizando a ação de criminosos, estupradores, serial killers,
agiotas, traficantes e milicianos – todos irmanados proficientemente em
emprestar a “audiência da desgraça” a esses veículos;Tenho nojoDesses
políticos que resolvem visitar os sítios de enchentes e tragédias,
trajando seus sapatos italianos e ternos franceses, desembarcando de
helicópteros e prometendo verbas, mundos e fundos que jamais chegarão de
fato aos desabrigados;
Tenho nojo
De nossa “presidenta”, ex-guerrilheira, lamentando farisaicamente a
morte de inocentes em delitos terroristas, quando no passado os tramava,
condenando outros inocentes e planejando tocaias, assaltos a bancos e a
cofres privados de políticos;
Tenho nojo
Do antecessor da “presidenta”, um dos homens analfabetos mais venais e
sem caráter desse país e das elites que o financiaram e que impedem a
polícia de prendê-lo e pagar por seus crimes;
Tenho nojo
Do partido que está no governo, que só intenciona permanecer no
poder, e a qualquer custo, manobrando o Erário, aparelhando as estatais e
permitindo a pior onda de corrupção jamais vista nesse país;
Tenho nojo
De nossos empreiteiros, dinâmicos em aditivos, superfaturamentos e em
bancar por propinas ocultas toda a máquina de corrupção que infesta a
nossa miserável política;
Tenho nojo
Da maioria expressiva de nossos deputados, fiéis canalhas e
vendedores de virtudes públicas, que só desejam fazer caixinha para as
próximas eleições, roubando pra se eleger e se elegendo pra roubar;
Tenho nojo
Do chamado poder Judiciário, tão lento para fazer justiça aos pobres e
lépido e compreensivo para julgar os ricos, permitindo toda a sorte de
recursos e chicanas. Os togados adoram prender pretos, pobres e
prostitutas, trabalhando em seus ricos palácios e conseguindo dormir sem
culpa;
Tenho nojo
Desses pastores televisivos, travestidos de arautos de Deus e Jesus,
ofendendo a fé pública, roubando os pobres através de dízimos e ofertas,
além de oferecer a salvação a todos que acreditem que eles podem
expulsar demônios. No entanto, eles são bastante coniventes e
conformados com os demônios que mandam aqui, porque lhes dão benesses e
concessões de TV e rádio em troca de votos;
Tenho nojo
Dos slogans mentirosos, lançados pelo governo, sugerindo a salvação
da Pátria pela educação e saúde, quando sabemos que são ramos
deficientes e vergonhosos de nossa Nação, desespero de seus habitantes e
motivo de chacota pelas nações realmente desenvolvidas;
Tenho nojo
Dos militares da ativa, que dizem que amam o Brasil acima de tudo,
mas ficam caladinhos e silenciosos, aguentando todos os estupros de
gestão no país e em suas respectivas Armas, esperando ir para a reserva e
aí, então, garantidos nas aposentadorias, ver devolvidos os próprios
cérebros e convencer os pobres civis de que detêm alguma opinião e
“acendrado” patriotismo;
Tenho nojo
De ver uma população conformada, a cada assassinato torpe, exigindo
justiça para sair em telejornais, e aceitando todas as sevícias sem dar
um pio, sempre esperando que surja um otário qualquer à frente de alguma
revolta para oferecer o próprio pescoço e aguardando, como ovelhas, o
próximo escândalo;
Tenho nojo
De ver o povo maltrapilha e tutelado, acreditando que é o
bolsa-família a salvação de seus males e que qualquer coisa diferente do
partido que está no governo lhes tomará de fato o pobre benefício;
Tenho nojo
De ser obrigado a ouvir, durante a semana, o pavoroso programa “A
Hora do Brasil”, serviço chapa-branca do governo, ocupado em desfilar os
feitos de ficção em que só os imbecis acreditam;
Tenho nojo
Dos jornalistas e artistas que se vendem em troca de dinheiro,
distorcendo a realidade e se calando diante dos desmandos que desfilam
sob seus olhos, em troca de viagens a Paris e moradia em prédios de
luxo;
Tenho nojo
De nossos médicos burgueses, que só querem viver em centros urbanos e
obter ganhos de clientes abonados e que permitem que o país seja
invadido por escórias estrangeiras de falsos médicos;
Tenho nojo
De nossos advogados dinheiristas, que se especializam em defender
delinquentes poderosos, em troca de polpudos honorários, porque na
verdade não acreditam na Justiça, considerando-a apenas um objeto de
lucro relativo;
Tenho nojo
Dos carcereiros de nossas penitenciárias que libertam os apenados nos
fins de semana, desde que estes lhes tragam dinheiro e sustentem por
fora uma cota extra;
Tenho nojo
Dos policiais que recebem propinas nos mais variados negócios escusos
e que matam o pobre povo desvalido, registrando autos de resistência,
na certeza de que escaparão ilesos e sem nenhum problema com as suas
corregedorias;
Tenho nojo
Dos eleitores que aceitam dentaduras, pares de sapato e outros
benefícios passageiros, vendendo o seu voto e o futuro de seus filhos.
Essa escória, a propósito, adora corrupção, admira os políticos ladrões,
lamentando não poder roubar com a mesma eficiência. A propósito, a
corrupção está no DNA do brasileiro: quanto mais ladrão, mais querido;
Tenho nojo
Das mulheres que falam em eliminar agressões masculinas, reivindicam
direitos e princípios feministas e aceitam de bom grado que suas
companheiras vendam o corpo para utilização comercial e sonhem com
casamentos milionários em troca da própria prostituição;
Tenho nojo
Dos homossexuais que pretendem que os heterossexuais não tenham
direitos equivalentes e que no fundo desejam que todos adiram às suas
práticas sodomitas;
Tenho nojo
De apresentadoras de programas infantis, que convidam crianças a se
tornarem adultas antes do tempo e copiem a sensualidade dos adultos,
destruindo a infância e o crescimento sadio de meninos e meninas;
Tenho nojo
Dos que alardeiam que roubam porque antes os outros fizeram o mesmo, como se um erro justificasse outro...
E, finalmente, tenho nojo de saber que esse país não tem conserto e
que tudo vai ficar assim mesmo, sempre esperando a próxima atração.
*Waldo Luís Viana é escritor, economista e poeta, pedindo desculpas por ir à farmácia comprar um plasil...
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