Durley Soares diz que não quer ficar mais rico, quando fala sobre a
expansão de sua marca, a tapiocaria brasiliense Raízes do Sertão, para
outros sete Estados do Brasil, com a venda de 17 franquias. O ex-morador
de rua que hoje é um empresário bem sucedido diz que quer ampliar os
negócios para fundar um projeto social de profissionalização de pessoas
carentes. Porém, até poder pensar em um projeto assim, ele percorreu um
caminho árduo pela sobrevivência.
Aos 17 anos, Durley já trabalhava duro para sustentar a família, com 11
irmãos, em Planaltina (GO), região administrativa do DF. Após construir
uma casa para os familiares com o dinheiro do trabalho como engraxate e
vendedor ambulante, o jovem se revoltou com a ingratidão do pai, saiu de
casa e preferiu ir morar nas ruas do Plano Piloto.
Na maior parte desse período como morador de rua, Durley contava com a
ajuda de um zelador que permitia que ele dormisse em baixo de um bloco
residencial da quadra 411 da Asa Norte, região central de Brasília. Ele
diz que sofreu bastante nesse período, vítima do preconceito das pessoas
em relação à população de rua.
— Quando se está na rua, ninguém se aproxima, as pessoas têm nojo. Até
balde de água jogaram em mim, em pleno mês de agosto, época de frio.
O jovem resolveu voltar para casa sete meses depois, após ficar comovido
ao ver uma reportagem na TV em que a mãe dizia estar sofrendo pela
falta dele.
De volta ao lar, ele conseguiu seu primeiro emprego com carteira
assinada em 1998 em um shopping da capital, trabalhando até as 16h e,
após o expediente, vendendo biscoitos até às 22h. No mesmo ano, saiu
novamente de casa, dessa vez para morar sozinho.
Em 2008, Durley já estava casado, morava em Samambaia, região
administrativa do DF, e esperava o primeiro filho biológico. Preocupado
com o sustento da criança, ele buscou um curso de formação de garçons no
Senac.
— Logo que concluí o curso fui convidado a trabalhar em um restaurante
na Asa Norte, fui chamado para ser garçom, mas o dono viu o meu empenho e
me promoveu ao cargo de gerente geral depois de dois dias de trabalho.
Após quatro anos juntando dinheiro com o trabalho de gerente, Durley
pode arrendar uma tapiocaria que funcionava ao lado do restaurante. Sete
meses depois, foi obrigado a fechar as portas por problemas com a
documentação do estabelecimento.
Frustrado com o negócio, o jovem resolveu abrir sua própria tapiocaria.
Com uma reserva de apenas R$ 700, Durley começou uma jornada para
conseguir dinheiro suficiente para o investimento inicial.
Amigos próximos, entre eles o radialista Diego Valadares, conseguiram
empréstimos bancários que possibilitaram o aluguel e a reforma de uma
loja na quadra 309 da Asa Norte. Sem garantia para financiar os
equipamentos e utensílios necessários para o funcionamento da
tapiocaria, Durley convenceu o dono da loja após ter contado a sua
história de vida.
— Depois de uma hora de conversa, o gerente me perguntou o que eu teria a
oferecer como garantia e eu respondi que era a minha palavra, que valia
mais do que tudo que ele pudesse ganhar na vida. Aí consegui comprar
tudo, dividido em 12 vezes.
Com tudo pronto, Durley espalhou faixas em balões de diversas ruas da
cidade e chegou a ser multado pela Agefis (Agência de Fiscalização). No
entanto a divulgação foi realizada e ele pôde abrir, em abril de 2011,
uma das maiores tapiocarias de Brasília, com 78 metros quadrados e
capacidade de atender 90 pessoas. No cardápio, mais de cem sabores
diferentes, dos quais 86 foram criados e registrados pelo ex-morador de
rua.
Em sete meses, o investimento inicial foi recuperado. Um ano após a
abertura da primeira loja, o empresário começou a se preparar para abrir
a segunda, na Asa Sul. A primeira filial da tapiocaria na cidade foi
inaugurada no último dia 13 de outubro. Ao todo, até junho do ano que
vem, serão cinco lojas da Tapiocaria Raízes do Sertão. A primeira
proposta de franquia chegou do Paraná. No auge da procura, a marca
chegou a receber 78 propostas em um mês. Hoje, o empresário recebe, em
média, 15 pedidos para a reprodução da marca, que não sai por menos de
R$ 128 mil.
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