Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A Venezuela sem Chávez e o neo-chavismo

A Venezuela é hoje um país à deriva, surreal, com um Chávez aparentemente agonizante que pede preces a Deus enquanto segue com seus vodus e santería, e nunca, em nenhum momento de seus piores dias, pensou em pedir perdão às suas incontáveis vítimas.

Após as eleições presidenciais, em 7 de outubro, os venezuelanos não viram mais Chávez até que no fim de novembro ele anunciou que voltaria a Cuba para exames. Por lá ficou em torno de 20 dias, reciclando estratégias com seu mentor Fidel, confabulando com as FARC, voltou e no mesmo dia anunciou que o câncer havia reaparecido e que deveria voltar a Cuba para submeter-se a uma nova cirurgia. Em cadeia nacional, Chávez anunciou que “talvez” não voltasse em condições re-assumir o novo período presidencial, o qual se elegeu fraudulentamente usurpando a vitória de Capriles. Nessa alocução o ditador informou ainda que deixaria seu vice, Nicolás Maduro, substituindo-o e que, caso não pudesse assumir o novo governo, que os venezuelanos elegessem Maduro para dar prosseguimento à implantação do socialismo na Venezuela.

Ocorre que neste afastamento Chávez cometeu crimes contra a Constituição que reza o seguinte: em caso de afastamento temporário por dois meses consecutivos ou provada a incapacidade definitiva, assume o governo o presidente da Assembléia Nacional e dentro de 30 dias convocam-se novas eleições. Maduro acumula os cargos de Vice-Presidente da República e Chanceler, ocupando, portanto, ilegalmente o cargo de presidente. Como se isso não bastasse, a Assembléia deu permissão a Chávez para afastar-se de suas funções por “tempo ilimitado”, contrariando a Constituição, que especifica que o prazo de afastamento tem que ser determinado.

O presidente da Assembléia, Diosdado Cabello, chavista desde o primeiro momento, aceitou nas aparências a usurpação das funções por Nicolás Maduro e comenta-se que está nos bastidores lutando para reaver o que lhe cabe por direito. Isso ainda vai render e pode não ser muito “pacífico”.

A cirurgia que Chávez fez no dia 12 de dezembro continua, como todas as demais, cercada de mistério e especulações. Segundo Dr. Marquina, um oncologista venezuelano radicado nos Estados Unidos, o câncer fez metástase na região lombar da coluna onde retirou-se três vértebras e colocou-se próteses. Foi uma cirurgia complicada, demorada e com muita perda de sangue. O pós-operatório e o prognóstico não foram dos melhores, chegando-se mesmo a especular que ele não resistiria e que no dia 17 de dezembro, data que se comemora a morte de Simón Bolívar, seria anunciado seu falecimento. Isto, até o momento, não foi anunciado.

Dois dias depois dessa cirurgia Maduro fez um pronunciamento comentando as dificuldades por que Chávez passara, pediu que os venezuelanos rezassem por seu restabelecimento e conclamou a militância a votar no dia 16, usando a doença do mandatário como “estímulo” para continuar com o seu projeto totalitário. Em Cuba o regime comunista ateu, que se firmou perseguindo e fuzilando cristãos que não renunciaram à sua fé, vendo-se na iminência de perder pela segunda vez sua galinha dos ovos de ouro, mandou rezar uma missa pela recuperação do seu “padrinho”. Os militares pertencentes ao Partido Comunista Cubano lotaram a igreja com velas e um gladíolo, símbolo das Damas de Branco que são agredidas fisicamente e proibidas de assistir à missa celebrada por seus parentes presos-políticos.
 Blasfemos e debochando das Damas de Branco, militares cubanos participam de uma missa pela recuperação de Chávez (Foto de "Martí Notícias")
Diante de tanta incerteza e mistério a oposição venezuelana, que deveria agora lutar para ocupar os espaços cobertos pelo PSUV (partido de Chávez), mais uma vez preferiu abster-se. Quase 50% da população votante do país não foi às urnas renovar os cargos de governador de estado e deputados. O resultado é que dos 23 estados o PSUV ficou com 20 e apenas 3 ficaram nas mãos da oposição. O mais trágico nisso é que, desses 20, 11 estão em mãos de militares reconhecidamente colaboradores das FARC (o “Cartel dos sóis”), o que garante a sobrevida do bando narco-comuno-terrorista colombiano na Venezuela.

Enquanto isso, em Havana, a tal “mesa de negociações” entre o governo colombiano e as FARC segue sendo determinada pelos terroristas que discutem não como vão se desmobilizar e desarmar, mas ditando regras sobre a agricultura, a economia, a educação e finalmente sobre o Foro Militar que já disseram ser contra, evidentemente. As FARC anunciaram um cessar fogo “natalino” mas nunca pararam de cometer atos de terrorismo e assassinar militares, policiais e civis.

Desde que anunciou, em julho de 2011 que estava com câncer, Chávez tem mantido seu diagnóstico e real estado de saúde no mais absoluto secretismo, como todos os líderes comunistas do mundo. O que se tem, desde o início até hoje, são especulações de todas as formas, inclusive sobre se a doença é real ou mais uma jogada política canalha para manter e fortalecer seu modelo socialista. A Venezuela é hoje um país à deriva, surreal, com um Chávez aparentemente agonizante que pede preces a Deus enquanto segue com seus vodus e santería, e nunca, em nenhum momento de seus piores dias, pensou em pedir perdão às suas incontáveis vítimas nem tampouco, num gesto de misericórdia, liberou da prisão seus desafetos incriminados fraudulentamente. Muitos deles padecem de câncer e continuam sem tratamento ou banho de sol, mas o Chávez ateu, comunista e blasfemo, quer que o povo reze por sua vida. O que será do chavismo sem Chávez parece ter sido estabelecido nessas eleições do domingo 16, oxigenado pela ausência daqueles que já não acreditam mais em nada.




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