Diariamente,
há notícias estranhas. Todas somadas, são assustadoras. A Caixa comprou
debêntures de frigorífico, o BNDES perdeu R$ 1 bilhão por não converter
seus papéis em ações de outro frigorífico. O Tesouro emitiu mais R$ 20
bilhões para o BNDES. Diretores de agências reguladoras são apanhados em
escândalos. Surgiu dúvida nova sobre um braço já extinto do Banco do
Brasil. Só nesses casos acima há vários absurdos com os quais os
brasileiros têm se acostumado. As agências reguladoras deveriam ser independentes
e ter quadros com capacidade técnica. São fundamentais para que haja um
ambiente confiável e estável para os
investimentos. Quando o PT assumiu, em 2003, as agências foram criticadas
por representarem a "terceirização" de funções governamentais.
Agora se vê que a verdadeira "terceirização" foi a entrega de
cargos fundamentais, como diretorias, para a Rose e seus Vieiras. É
estapafúrdio que a Caixa Econômica Federal vire sócia de frigorífico. Não
faz sentido. Ela está a um passo disso: comprou integralmente as debêntures
da holding do JBS, o J&F, o mesmo grupo que foi beneficiado por compras
de debêntures pelo BNDES, em operação semelhante. A empresa fez, anos
atrás, emissão de papéis que foram totalmente comprados pelo banco público
e depois convertidos em ação. Hoje, o BNDES tem 40% do capital do
frigorífico. Além disso, o mesmo grupo recebeu empréstimos subsidiados em
volume exorbitante. No caso da Marfrig, foi pior. O BNDES decidiu perder R$
1 bilhão porque se fosse exercer seu direito contratual viraria dono da
empresa. Os benefícios concedidos por este governo ao setor de carne são
inexplicáveis. Agora, passou a ajudá-los através da Caixa Econômica
Federal. O Banco do Brasil criou, em dezembro de
2003, uma subsidiária cuja função supostamente seria emprestar para a
população de baixa renda. O infeliz Banco Popular do Brasil (BPB) existiu por pouco tempo e enquanto durou fez a alegria
de Marcos Valério, dono da conta publicitária. No primeiro ano de existência, o BPB gastou com publicidade um valor superior às
operações de crédito que havia concedido. Segundo o jornal
"Estado de S.Paulo", no depoimento que o publicitário - condenado
por corrupção a mais de 40 anos de cadeia - concedeu ao Ministério Público,
ele contou que tinha que pagar mesada ao PT por algumas contas de
publicidade que recebeu. Uma delas, a do finado Banco Popular do Brasil.
Detalhe é que não houve uma licitação específica do Banco Popular. O então
presidente da instituição, Ivan Guimarães, disse que era normal gastar
bastante com publicidade no início, porque depois os gastos cairiam. O
problema é que não houve o depois. Permanentes são apenas os ecos daquela
estranha operação bancária nunca devidamente explicada. Cada um desses
eventos acontece separadamente. Se fossem casos únicos já seriam
preocupantes, mas, somados, mostram a cara de um país que está cometendo
erros demais. Um deles o de colocar em aventuras os bancos públicos para
beneficiar as empresas privadas favoritas. Outro,
o de desmoralizar a função de órgãos que foram criados para regular áreas
estratégicas. O Brasil este ano está com um
desempenho econômico pífio. O PIB está estagnado e a inflação está
alta. Mas essa conjuntura pode ser revertida no ano que vem. O problema é
que os erros que vêm sendo cometidos deixam herança. Como o Brasil aprendeu
dolorosamente no passado, não se brinca com a saúde financeira dos bancos
públicos porque eles têm um dono: o Tesouro. Sobre as costas dos
contribuintes é que cairá a conta quando ela chegar. Na economia, a conta
sempre chega.
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